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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JOAQUIM NAMORADO

 

Joaquim Vitorino Namorado OL (Alter do Chão, Alter do Chão, 30 de Junho de 1914 - Coimbra, 29 de Dezembro de 1986), foi um poeta português.

Licenciado em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra viria, após o 25 de Abril de 1974, a ingressar no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia daquela mesma universidade.

Foi um dos iniciadores e teóricos do movimento neo-realista em Portugal e colaborou nas revistas Seara Nova, Vértice, Sol Nascente, entre outras.

Foi militante do Partido Comunista Português desde os anos 30.

A 16 de Março de 1983 foi feito Oficial da Ordem da Liberdade.

Livros de poesia: Aviso à Navegação (1941); Incomodidade (1945); A Poesia Necessária (1966).

 

 

CAIS

 

“...o caís é uma saudade de pedra".

FERNANDO PESSOA.

 

Partem navios

e chegam navios
de todos os pontos cardeais,
só eu fiquei
sonhando os orientes
no cais.

 

Outros partiram...

 

— Tantas vezes me chorei perdido

e vencido me arrastei

ao sabor das tempestades e dos fados.

Tantas vezes fui o herói da aventura,

o navio naufragado...

e sempre ressuscitei

no cais.

 

Que em mim vive esta ânsia

sempre nova

da largada.

 

Eu não amo o que possuo,

o que sou

não é jamais onde estou;

eu sou o ausente:

a posse deixa-me inerte,

só o desejo me abrasa...

 

Só eu fiquei

com saudade de mim

nunca embarcado...

 

                        De "Aviso à navegação",

 

 

FÁBRICA

 

Oh, a poesia de tudo o que é geométrico

e perfeito,

a beleza nova dos maquinismos,

a força secreta das peças

sob o contacto frio e liso dos metais,

a segura confiança

do saber-se que é assim e assim exatamente,

sem lugar a enganos,

tudo matemático e harmónico,

sem nenhum imprevisto, sem nenhuma ventura

como na cabeça do engenheiro.

Os operários têm nos músculos, de cor,

os movimentos dia a dia repetidos:

é como se fossem da sua natureza,

longe de toda a vontade e de todo o pensamento;

como se os metais fossem carne do corpo

e as veias se abrissem

àquela vida estranha, dura, implacável

das máquinas.

 

Os motores de tantos mil cavalos

alinhados e seguros de si,

seguros do seu poder;

as articulações subtis das bielas,

o enlace justo das engrenagens:

& fábrica-, todo um imenso corpo de movimentos

concordantes, dependentes, necessários.

 

                        De "Aviso à navegação"

 

 

 

ÁFRICA

 

África do Congo,

África distante do Congo

distante...

África apertada, cingida,

no périplo do meu abraço:

nó dos meus pulsos

fechando o teu corpo negro

aberto para a minha ânsia'.

Descoberta do acaso

das minhas navegações:

África perdida nos "cabarets"

com o teu riso branco de espanto

das civilizações.

 

Ó minha negra,

escrava humilde e fiel,

encontro do meu destino pirata..

 

 

Floresta nunca pisada;

virgindade das florestas virgens rasgada;

rosa desfolhada

como a tua boca no riso branco,

como o teu destino branco

na lotaria da vida.

 

Cadeia dos meus sentidos,

febre da minha aventara....

 

Roubei os diamantes do teu seio

o oiro das tuas pulseiras,

e negociei tudo nas bancas!

Vendi as tuas terras

e os teus rebanhos,

                    derrubei as tuas florestas

e arrasei as tuas aldeias

despovoei os teus reinos,

trocei as tuas crenças...

 

Veneno europeu...

 

Fiz dos teus filhos escravos

e, senhor do meu destino,

amarrei-te à minha sorte.

 

Veneno europeu...

 

Teu corpo de mapas,

neste leito do mundo,

quantas vezes o fiz meu.

Ris com esse riso de cartaz

 

branco,

límpido,

fixo.

Ris.

 

O jazz toca um desses blues

e o negro ao cornetim

rasga o silêncio

com o seu grito de faca.

 

O eco ficai bailando

no teu corpo

como o ramo das palmeiras...

das palmeiras lá do Congo.

O som cavo das marimbas

bate o compasso no fundo da música...

 

África civilizada,

vestida à moda das nações,

fazendo ouvir nos boulevards

a tua música de recorte primitivo.

 

Outros batuques distantes,

outros batuques mais distantes

que me vêm no sangue

— o bater das marimbas foi que o acordou.

 

A virgem loira desfalece

nos braços de quem dançou.

O saxofone, do espanto

dos teus olhos, se entornou...

 

E o teu riso de cartaz,

branco

como marfim de amuletos,

brilha nos acordes do piano.

 

Capa de magazine:

A luz correu do teu corpo

que brilhou como uma lança...

Já não há lanças em África...

dança,

dança...
Já não há lanças em África...

já não há guerra,

já não há guerra...

— batuque de lanças quebradas,

batuques do Congo já não são de guerra

Batuques de lanças quebradas;

batuques de guerra... não!

 

Nos cofres fortes do Cabo

o teu suor corre em libras..

Yes, whiskey and soda.

 

Nos cofres fortes do Cabo

o teu suor corre em libras:

África da colonização.

 

De "Aviso à navegação”

 

 

Página publicada em agosto de 2015.


 

 

 
 
 
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