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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA PORTUGUESA
Colaboração de Maria do Sameiro Barroso
 

 

Fonte: http://www.triplov.com/

 

ANA PINTO

 

Ana Pinto é artista plástica, abrangendo as áreas de pintura sobre tela, ilustração e cerâmica.

 

- Como artista plástica está representada em várias colecções particulares em Portugal e no estrangeiro.

 

 - Formada em Conservação e Restauro de Pintura de Cavalete.

 

- Também com formação técnica em cerâmica e pintura de azulejos, assim como formação técnica e prática em restauro de bens arqueológicos.

 

- Escreve poesia desde muito jovem. Em 2004 foi galardoada com o prémio Revelação em Poesia, pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) e pelo Instituto Português do livro (IPLB), com o livro “ O pólen do silêncio”.

 

- A sua escrita, de diversas temáticas, incide também em temas clássicos e mitológicos.

 

Poemas extraídos do livro:

 

OS SELOS DA ROSA  (Cristalia 2013)
ISBN-10: 1492918407    -   ISBN-13: 978-149291840
Na capa: Pintura de Ana Pinto

 

A CATEDRAL DA NOITE

 

A catedral da noite é como um berço

onde habitam harpas, acordes que procuram

a forma indivisível da casa

em colunas erguidas à última corda dos céus.

 

Dizem que no meio estão os anjos todos brancos

e que aí a música dos ares abre

crateras amplas de fogo e de cristal. 

E que nas entranhas da noite se move

o espírito do poema. Por isso

nas mãos, nos dedos, 

cresce-me a cadência, o uso

de revolver a palavra no negrume

até descer ao silêncio

e ouvir o som.

 

 

A TAÇA, AS PALAVRAS

 

 

 

Quero palavras como fruta viva ou pão cozido ao sol 

palavras verdes e roxas, com seiva a correr e bagas cheias,

palavras fermentadas entre a terra e a boca

ou palavras cereais

brotando no trigo das antemanhãs

 

Quero palavras que se possam plantar em campos extensos,

que estejam nuas e que mantenham intacto o orvalho

 

Ou palavras temperadas de oiro, entre o metal e a faísca

com o âmago do fogo puro

e a luz toda no seu centro

 

Afasto a taça das palavras ocas, apodrecidas

sob as trevas dos punhais

 

 

 

ENTRE CADÊNCIAS

 

Adormeço entre a bigorna e a cadência

dos relâmpagos. Escavo o minério

por entre os ramos despenhados da ausência

 

O ritmo partiu-se no ar

e levanto o rosto de encontro ao fogo

quebrado e cego

 

Hoje não dançaremos a noite

Sou um barco melancólico

entre as dunas do silêncio

 

 

 

ÚLTIMO SILÊNCIO

 

Queria morrer numa praia desassombradamente livre

morrer sentindo morrer o grito da gaivota -

a pele da areia iluminada como a pele

em torrão da minha pele

como rúbia acendalha do templo, do vidro negro

beber das faúlhas do regaço infindo, 

entrar por todas as aberturas

do último silêncio.

 

Se gritarem o meu nome

do limiar onde os demónios se amam em loucura -

digam que engoli um astro vivo comprimido

que afogarei num leito de pérolas suavíssimas

com as mãos cheias de noite e de nada

numa praia desassombradamente livre

 

 

 

A MÃO E A HARPA

 

O sangue do crepúsculo

é artéria pulsante,

derradeiro cisne - que em ti

corre

e lavra

a travessia das horas.

A mão e a harpa

habitam mais tarde a palavra

recôndita nas conchas negras

onde a luz se banha.

 

A noite é feita de espelhos

e prodígios

 

 

 

ESTRANHO OFÍCIO

 

Estranho ofício este

navegar

o rio da palavra portentosa

pelas frestas deslumbradas

dos olhos. Ser nau

soçobrada no muro, rede na areia

pura, ouro decantado

da sombra. Sabemos

dos fogos altos, da luz arremetida

à órbita dos braços, do poder da raiz.

Dos leitos fechados do tempo

que gritam êxtases.

 

As palavras que escrevo

tocam mãos em outras mãos,

quando de meus dedos transborda a espuma.

Desço em ti, fonte luminosa,

maresia, fio inacessível, 

nocturno espelho

do encontro

És a viagem alva dos crescentes

com o sangue da lua ainda fixo no ocaso.

Mordem-se espelhos

Seremos mar

nas noites, seremos

dança,

o diamante que se verte no recesso curvo,

o verso líquido

 

O mar chove-nos o sal todo:

sou uma partícula de luz

agarrada à pele da tua garganta

 

 

Extraído de:

 


CRISOL

 

Na capa: pintura de Ana Pinto

Introdução: Maria do Sameiro Barroso

 

 

 

LIGA DE SALAMANDRA

 

Deixei de estar – sou o ocaso abaixo

à terra alta, a lava

que não regurgitou o cúmulo

a figueira maldita

que escondeu os nados.

Sou portanto, invisível, aprendi

o princípio da lenha ardente -

apaguei na linha o brilho da salamandra

consumi-me na violenta secura do visco

na espuma pulmonar da dor:

tive uma liga feita

de vermelho ouro -

respirei na sofreguidão, rubesci-me - 

mas poros de chamas

perfuraram-me, cravaram orifícios

na combustão do forno onde subiam

serpentes de fumo -

Uma estação não dei fruto

nem talos, nem rebentos, nem nervos

 

nem uma única flor crua:

amaldiçoei

o desacerto do tempo

 

Com mel árido escudei o âmago

e nunca mais vi a minha amálgama

nunca mais senti a ferida – 

o manto incandescente a subir o sol das costas

 

 

 

AS GÁRGULAS

 

As gárgulas estão vivas nos olhos das catedrais

vomitando águas doces, minérios à crosta -

a boca do poeta regurgita a levedura,

lâmina, prata afiada, fecunda

à folha estéril.

Na primeira vigília - a noite dá início

à corda da garganta subtilíssima, o daimon

dança debaixo dos pés, levitando-os,

roda nas pernas, nos braços

que escrevem,

a palavra golfa às cavernas crescentes, agudas

 

À descida da lua, as gárgulas

mordem-na no bico -

afiam-na  - os lábios ficam prenhes:

ululam as aves de pedra,

voam acima das calhas, gorgulham a linfa

despedaçam-se à luz obscura do verso

para se elevarem desnudas pela ferida,

arfando verdes, animalescas

em pedaços sombrios que deslumbram

 

Névoa que toca os corpos brancos, musgo

do mármore, leva-me também pelas artérias do pó

dobra-me a seiva vermelha, faz-me jazer

ao calcário das juntas angulares - que minhas

linhas insones sejam o olho da pedra líquida

das feras do templo

e minhas unhas sejam

o ângulo onde se debruça a palavra viva

 

 

 

MAPAS DE ALABASTRO

 

Noites em que se escuta

o gerar de cristais em mapas de alabastro -

Vésper costura à janela oclusa

um vestido de camadas e camadas de ouro

 

Noites em que pálpebras se abrem

completamente às veias do bosque

às bocas escarlates -

Nas pautas, os magos

estalam ponteiros de quartzo,

porque a vida

é um percurso ínvio, uma desconstrução,

um passo no vazio, uma lona de nenúfares -

uma água que golfa

a um corpo alagado em versos e sargaços

 

Algures aqui, despedaçou-se uma lira.

Uma placa entre pedras roladas tem escrito um nome

mas a velha ponte de troncos de pinheiro bravo

 

 

já não existe, é apenas uma história

na qual há muito tempo adormeci

As ninfas desceram, rolaram às lapas,

Desfizeram corolas, conchas,

arrebataram o tempo nas mãos

refizeram-se em rochas calcinadas

 

E um espectro de organza abre a água

numa língua incompreensível, sibila uma música absurda,

mas é tudo um sonho

entre vagas e vagas de rumores

sepultados sob as areias das ampulhetas

 

 

 

OS POETAS MALDITOS

 

É na garganta do abismo

que estão todos os poetas malditos.

Os vivos e os mortos: os vivos malditos

parecem-se com os mortos malditos

e os mortos ainda uivam

e por vezes dançam e correm

a mastigar a cevada da lua

 

Estão lá, não porque um engoliu

uns quilos de pedras,

ou a outro lhe chumbaram

um relâmpago na fronte,

ou ainda outro que era sofredor

de iluminações insones,

ou aquele que estarrecido em criança

olhou um charco sacudido pela beleza da luz

 

Triste destino têm todos eles:

os poetas malditos mortos

ficam para sempre vivos

e os poetas malditos vivos

são como mortos

 

O abismo é o ermo onde encontram

o seu próprio deserto. E no fundo do deserto

são loucos e são livres

 

Convém porém evitá-los,

tanto aos poetas malditos mortos

como aos vivos:

porque eles já percorreram

o caminho inverso

que faz o abismo ser o infinito estelar

 

e mais ainda, porque eles sabem

do poder da palavra

 

 

Página publicada em janeiro de 2014


 

 

 
 
 
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