MÁS ALLÁ DE ESTE MAR 

  (Para Asela)    

                           

Más allá de este mar, al otro lado, siguen las guerras,      

siguen esas intensas tardes de polvo y de metralla,

los combates a muerte calcinando las vidas y  futuros;

asegurando huérfanos, tullidos, vacío innumerable;

asesinando hombres y cosechas, envenenando ríos,

negando la existencia de nuevos manantiales,

destruyendo museos, dando a los libros fuego.

En despachos ovales políticos con almas mutiladas,

con escasa conciencia y odios acumulados 

patrocinan la lucha desigual contra los miserables,

ese afán enfermizo de cosechar violencias,

la importante tarea de anular ciudades y fronteras.

Dan órdenes precisas para la destrucción inacabada,

calculando las cifras que puede reportar tal holocausto.

Con finos palitroques de oro y adornos de diamantes

señalan en sus mapas los lugares de angustia,

los objetivos tácticos (trincheras, carreteras,

hospitales, almacenes de grano, consulados,

indefensas mujeres y ancianos, niños quietos),

Son los grandes peligros, innatos enemigos

para las civilizaciones del confort y del lujo.

Es el culto Occidente aún desperezándose,

defendiendo con furia su sistema de vida

con sus torres perfectas, sus pobres olvidados,

fogosas compañeras de fina lencería,

sus hijos bien vestidos, sus dorados licores.

Es el terror legal contra un horror fanático,

la razón de las armas, el dolor de los otros.

Pero estos y aquellos, los infames políticos

y aguerridos líderes, lanzan a la agonía

a las huestes guerreras con sus perversas armas,

aunque ningún caudillo abandone su cuarto

para ir a encontrarse con los otros guerreros

en esos tristes campos de dolor y batallas.

Suave se mece mientras este Mediterráneo,

nuestro mar necesario, apacible y vital,

buscando su extinción de la forma más cruel.

Sus aguas van lamiendo las rocas desgastadas,

moviendo las arenas, regando orillas sucias

dejando una oración por la muerte en las  playas.

Nos cuesta comprender esos terrores ciegos,

esa inutilidad costosa y calculada de ignominia,

de pólvora,  napalm, gas mostaza, eficaces misiles,

sangre, sangre, dólares convertidos en puñales,

tanta legalidad malvada, bombas  asesinando.

El mar sigue expectante, con todo su dolor

más allá o aquí cerca, esperando la vida,

la paz obligatoria, el sol sobre las aguas.

¿Dónde están las semillas del amor,

MUITO ALÉM DESTE MAR
 

(para Asela)  

 

Tradução de José Santiago Naud

 

 

Muito além deste mar, do outro lado, a

guerra continua,

seguem essas tardes intensas de poeira e de metralha,

combates fatais calcinam a vida e o futuro;

eles garantem órfãos, entrevados, o vazio inumerável;

assassinam homens e searas, envenenam fios

extinguindo a existência de novos mananciais,

destruindo museus, queimando livros.

Nos gabinetes ovais políticos de alma mutilada,

a consciência escassa e o ódio acumulado,

patrocinam a luta desigual contra os miseráveis,

esse doentio afã de colher violências,

a importante tarefa de aniquilar cidades e fronteiras.

Dão ordens precisas para a destruição inda incompleta,

estimando as cifras que pode cumular tal holocausto.

Com finas bandeirinhas de ouro e adornos de diamante

marcam em seus mapas os lugares da angústia,

os objetivos táticos (trincheiras, estradas,

hospitais, armazéns e silos, consulados,

mulheres indefesas e idosos, a inocência infantil).

são os grandes perigos, inatos inimigos

das civilizações do luxo e do "comfort".

É o Ocidente culto ainda espreguiçando-se,

furioso defendendo seu jeito de viver

com suas torres perfeitas e os pobres esquecidos,

fogosas companheiras ricamente vestidas

e os filhos bem trajados, os licores dourados.

Eis o terror legal contra o horror fanático,

a razão das armas, o sofrimento dos outros.

Mas tanto uns quanto os outros, políticos infames

e chefes aguerridos, espalham agonia

na frente de batalha com suas armas perversas,

embora líder algum deixe seu quarto

para ir encontrar-se com os outros guerrilheiros

nesses campos tão tristes da dor e das batalhas.

Entretanto bem suave balança o Mediterrâneo,

nosso mar necessário, aprazível, vital,

e busca sua extinção da forma mais cruel.

As águas vão lambendo as rochas carcomidas,

mexendo com as areias, regando as orlas imundas

e deixando uma oração pela morte nas praias.

Custa-nos entender esses terrores cegos,

custosa inutilidade de calculada ignomínia,

pólvora, napalm, gás de mostarda, mísseis efetivos,

sangue e sangue, dólares transformados em punhais,

tanta legalidade malvada e bombas assassinas.

o mar segue expectante, com toda a sua dor

muito além ou aqui perto, esperando a vida,

a paz obrigatória, o sol sobre as águas.

Onde estão as sementes do amor?

Onde fica a afeição humana?