TELMO  PADILHA 
                (1930-1997) 
                  
                nasceu em Itabuna, a 5 de maio de 1930. Foi  jornalista e Membro da Academia de Letras de Ilhéus, por indicação de Adonias  Filho. Publicou os seguintes livros: "Girassol do Espanto"(1956);  "Ementário"(1974); "Onde tombam os pássaros"(1974);  "Pássaro da Noite" (1977); "Canto Rouco"(1977); "O  Rio"(1977); "Vôo Absoluto" (1977); "Poesia  Encontrada"(1978); "Travessia"(1979); "Punhal no  Escuro"(1980) e "Noite contra Noite" (1980), todos no melhor  gênero da poesia. Muitas obras de sua autoria foram traduzidas para o italiano,  o espanhol, o inglês, o francês, o alemão e o japonês.  
                       
        Destacou-se como poeta no cenário nacional e foi  agraciado com muitos prêmios como "Melhores Livros", da Câmara  municipal de Itabuna (1956); "1º Concurso de Poesia - A Tarde";  "Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro" (1975);  Prêmio do Concurso Internacional de Poesia San Rocco, Itália (1976); 1º Prêmio  do Concurso de Poesia Firmino Rocha, da Prefeitura Municipal de Itabuna (1981);  e Prêmio Sosígenes Costa da Prefeitura Municipal de Ilhéus (1981).  
   
        Poeta de reflexões existenciais, que  constantemente indaga-se, questiona-se, numa linguagem repleta de sutilezas  líricas. Inquieto, reafirma uma poética cuja temática indaga de forma intimista  o viver, o morrer, a infância, a solidão e, ainda, sua relação com a realidade  da sua terra, da cultura do cacau e do tempo que estabelece esta história que  se escoa pelas frestas cotidianas. Sua poesia reside numa lírica lucidez, num  abismo interior, entre a febre e insônia, expressa num processo criativo maduro  e num estilo impecável.  
   
        Telmo Padilha faleceu no dia 16 de julhoTelmo  Padilha nasceu em Itabuna, a 5 de maio de 1930. Foi jornalista e Membro da  Academia de Letras de Ilhéus, por indicação de Adonias Filho. Publicou os  seguintes livros: "Girassol do Espanto"(1956);  "Ementário"(1974); "Onde tombam os pássaros"(1974);  "Pássaro da Noite" (1977); "Canto Rouco"(1977); "O  Rio"(1977); "Vôo Absoluto" (1977); "Poesia  Encontrada"(1978); "Travessia"(1979); "Punhal no  Escuro"(1980) e "Noite contra Noite" (1980), todos no melhor  gênero da poesia. Muitas obras de sua autoria foram traduzidas para o italiano,  o espanhol, o inglês, o francês, o alemão e o japonês.      Fonte: http://www.itabuna-ba.com.br/telmo.htm   
                O jornal ITABUNA – no seu Portal da Capital  do Cacau prestou uma homenagem ao poeta e publicou o poema em homenagem à  cidade, que reproduzimos a seguir: 
                    
                
                TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL 
                   
                  
                TEXTOS EM PORTUGUÊS   -    TEXTS IN ENGLISH 
                  
                TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EM FRANCÊS (FRANÇAIS) 
                TEXTOS EM ALEMÃO (GERMAN) 
 
                                                                                 
                                                                                 
                 
                ITABUNA 
                 
                  Se não há montanhas, 
                  como escalá-las?  
                  Se não há florestas, 
                  Com embrenhar-me 
                  em sombras 
                  que não estas? 
                  Se não há o mar, 
                  como falar de águas 
                  e horizontes? 
   
                  Sou o cantor 
                  desta planície 
                  e me abismo  
                  em mim, 
                  e desço aos outros 
                  de mim, 
                  e sofro os outros 
                  de mim. 
                  
                Seleção de Walmir Ayala 
                Poemas publicados  originalmente na 
                REVISTA DE CULTURA  BRASILEÑA 
                Junio 1975 N. 39 
                  
                                        INFÂNCIA 
                                               fartura.  Nem tanto 
                mais que uma fazenda 
                com seus  pastos, seus animais, 
                o engenho  antigo, o rio 
                correndo  entre pedras, 
                tímido sob  as grandes 
                árvores, 
                água. 
                A noite  desenhava 
                úmidas  assombrações. 
                O vento no  rosto 
                do menino  cavalgava 
                mais que  seu cavalo. 
                A vida  tinha seu cheiro 
                de  eternidade, exato 
                e puro. 
                A morte era  um fato 
                natural,  quase geométrico 
                na ignorância  da tarde. 
                  
                RIMA 
                  
                A palavra amor 
                já não rima com flor: 
                outra é sua correspondente 
                na escala do som, 
                na escala do ritmo. 
                Pode-se combiná-la  
                com calor, noutro plano; 
                ou com identidade, 
                aquela que mente 
                à outra verdade. 
                Com cal e giz 
                a escrevemos 
                no poema 
                antes que apague. 
                  
                  
                ----------------------------------------------------------------------------------  
                TEXTOS  EN ESPAÑOL                 
                  
                  
                RIMA 
                  
                La palabra amor 
                ya no rima con flor: 
                es otra su correspondiente 
                en la escala del son, 
                en la escala del ritimo 
                puede combinarse 
                con calor, en otro sentido; 
                o con identidad, 
                aquella que miente 
                la otra verdad. 
                Con cal y tiza 
                la escribimos 
                en el poema 
                antes de que se apague. 
                  
                  
                INFANCIA 
                  
                Hartura. No mas  
                que una hacienda 
                con sus pastos, sus animales, 
                la antigua factoría, el rio 
                corriendo entre las piedras, 
                tímido bajo los grandes 
                árboles, 
                agua. 
                La noche dibujaba 
                asombraciones húmedas. 
                El viento en el rostro 
                Del niño cabalgaba 
                más aún que su caballo. 
                La vida tênia olor 
                de eternidad, exacto 
                y puro. 
                La muerte era um hecho 
                natural, casi geométrico, 
                en la ignorância de la tarde. 
                  
                  
                 
                TEXTOS EM PORTUGUÊS   -   TEXTS IN ENGLISH 
                 
                  
                
                PADILHA, Telmo.  Birds/Night – poems.  A bilingual edition. Translated from the  Portuguese by Fernando Camacho.  Londo:  Rex Collings; Rio de Janeiro: Sel Editora, 1976.  61 p.   13,5x21 cm.   “ Telmo Padilha “ Ex. Bibl. Antonio Miranda 
                  
                  
                  
                Lição 
                  
                Com as fábricas aprendo  
                sábia lição: que ferros  
                se ajustam sem erros  
                nos erros da mão. 
                  
                Com as fábricas aprendo  
                madura lição: 
                  
                que se funda a arquitetura  
                na arquitetura da mão. 
                  
                Com as fábricas aprendo  
                prosaica lição: que a mão  
                é firme se não treme  
                a  dúvida da outra mão. 
                  
                Lesson 
                  
                From the factories I learn 
                a wise lesson: that peices of iron 
                are adjusted to one another without  error 
                by erring hands. 
                  
                From the factories I learn  
                a mature lesson: 
                  
                that architecture is based  
                upon the architecture of the hands. 
                  
                From the factories I learn  
                a prosaic lesson: that the hand  
                is steady while doubt does not  
                shake the other hand. 
                 
                  
                Noites 
                  
                Noites há, como esta  
                sublevada: mais que mar  
                proceloso, mais que vento,  
                E vem—cinza e treva—de dentro. 
                  
                Noites há, como esta  
                impressentida: altas ondas,  
                afundados barcos, patinantes  
                ilhas de tédio: chuva e medo. 
                  
                Noites há, como esta  
                insuspeitada: treva e nada,  
                trementes nervos açoitados,  
                e este fugir de quem não escapa. 
                  
                  
                Nights 
                  
                There are nights, like this 
                agitated: more than the storm, more  than the sea 
                more than the gale. 
                And it comes — grey and dark — from  within. 
                  
                There are nights, like this 
                unnoticed: high waves, 
                sunken ships, skating 
                islands of boredom: rain and fear. 
                  
                There are nights, like this, 
                unsuspected: darkness and nothing, 
                the flogging of trembling nerves, 
                and this flight of someone who cannot  escape. 
                  
                  
                  
                As  fundações 
                  
                Te construo  
                a partir da escura  
                matéria de punhais  
                altissonando palavras  
                em gases revestidas.  
                São dores gerais  
                esses particulares ais.  
                Fragilidade e grito  
                não impedem a infinito.  
                Comungo a total  
                no totalizante geral.  
                A tensão conclama  
                tua voz que me chama. 
                  
                  
                The foundations 
                  
                I construct you  
                from the dark matter of daggers 
                enlarging the sound of words 
                clothed in veils. 
                They are universal pains 
                those individual crimes. 
                My fragility and my screaming 
                do not hold back the infinite. 
                I shave the whole 
                  with the infinite generality. 
                And your voice comes to me 
                through that converging tension. 
                  
                  
                Linguagem 
                  
                Não me peças mais que este  
                dizer que não diz,  
                senão em rota indireta.  
                Que as palavras são armaduras  
                do dizer que mais diz.  
                Atrás dela é mais clara  
                a chama que mais brasa  
                queima porque não diz. 
                  
                  
                Language  
                  
                Don't ask me for more than  
                this saying which says nothing  
                except by an indirect route.  
                Because words are armour duty  
                saying more than they say.  
                Through it, the flame is dearer  
                which burns more.  
                                    And burns because it doesn't  show.  
                  
                  
                Os  dias 
                  
                Caminho 
                em tudo carne, 
                carne prisão cela 
                e o navio que não parte. 
                  
                Os deveres, sim os deveres!  
                Salas, papéis, os poemas  
                dominicais. Chora o pássaro. 
                  
                Os arcabouços, viseiras sempre  
                por tirar. 
                  
                Passageiro de outro expresso,  
                o que não parte. 
                  
                Voltar não é retornar  
                ao mesmo lugar. 
                  
                  
                The days 
                  
                A trail 
                in everything made of flesh, 
                flesh, prison, cell 
                and a ship which never leaves port. 
                  
                The duties, yes the duties! 
                Rooms, pieces of paper, and the Sunday 
                poems. The bird shrieks out. 
                  
                The skeletons, and the disguises always  
                to shed off. 
                  
                Passenger of the other train,  
                the one that doesn't leave. 
                  
                To return is not to go  back  
                to the same place. 
                  
  
  
  
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EM FRANCÊS (FRANÇAIS) 
  
PADILHA,  Telmo.  Esquisses.   Traduit du brésilien par Emanuel von  Lauenstein Massarani.  Illustrations  originales de Patrick Goettelen. Couverture de Alceu Polvora.   Genève, Suisse:  Éditions Roulet, 1975   36 p.   10,5x15 cm.  Edição: 600 exs.  Numerados.   Ex. n. 576 bibl. part. De  Antonio Miranda. 
 
  
I 
Em cada lugar  deixei  
                                                                um pouco do que fui  
                                                                daquele que não serei.  
                                                                Como juntar essas coisas  
                                                                que outros nomes se dão  
                                                                na palma de uma só mão.  
                                                                Se são vastos estuários  
                                                                e esses rios agrários  
                                                                desembocam no coração.  
                                                                Se são rostos, contrações,  
                                                                esgares, risos, apelos,  
                                                                lágrimas, incomunhões.  
                                                                Se a poeira cobriu tudo  
                                                                nas dobras do coração ? 
  
  
I 
  
J'ai laissé en chaque lieu 
un peu de ce que j'ai été 
et de ce que je ne serai. 
Comment tenir ces choses 
auxquelles on donne d'autres noms 
dans la paume d'une seule main. 
Si ce sont de vastes estuaires 
et ces fleuves fertilisants 
qui débouchent dans le cœur ? 
Si ce sont visages, contractions, 
grimaces, rires, appels, 
larmes, choses non communiquées ? 
Si la poussière recouvre tout 
dans les  replis du cœur ? 
  
  
  
IV 
  
Onde as  varizes 
                                                                destas árvores tão antigas? 
  
         Que morte as faz assim preclaras 
                                                                         coisas  no ar parado 
                                                                         varando  o ar gelado? 
  
         Quem as ancorou 
                                                                         na  noite deste lado 
                                                                         para  que a morte não as apague? 
  
  
         IV 
  
  
Où sont les veines 
de ces arbres si vieux ? 
Quelle mort ne les broie, gelés et flagellés ? 
Qui en fait ainsi choses illustres dans l'air en suspens coupant l'air  gelé ? 
Qui les a ancrés 
dans la nuit, de ce côté 
pour que la nuit ne les effacent ? 
  
  
                                                                
                                                                                                                                
                                                                                                                                                                                                
                                                                                                                                                                                                                                                                TEXTOS EM ALEMÃO (GERMAN) 
                                                                                                                                                                                                 
                                                                                                                                 
                                                                 
 
  
PADILHA, Telmo.  Wo  die vögel hinfallen.  Vom Brasiliannischen übersetzst,  Originale Federzeichbungen Alceu  Polvora.  Lausanne, Suisse: Éditions de  La Tour SA, 1976. 63 p.           ilus.   Tiragem 500 3xs. Ex. n. 252 na bibl. part. Antonio Miranda. 
     
  
  
An  den Zweigen welken 
wie  verachtete Frauen 
die  Früchte. Von Begierde brennend 
während  machtlos 
Tage  und Nächte 
ihnen  zu Füssen gleiten 
wie  eine Uhr unerbittlich. 
Die  Reife 
mehrt  ihr Leid 
im  Bangen um den Frühling 
der  fortgleitet 
unter  ihren Füssen. 
Bei  seiner Rückkehr 
knistert  das Feuer 
nicht  wie die Erde 
unter  den Bäumen, 
warm  und tief, 
das  Geheimnis 
des  Keimens hütend. 
  
  
AM BODEN 
  
Niemand  sah den Körper fallen 
wie  einen Baum, von der Axt getroffen. 
Niemand  hat die unsagbare Freude gesehn 
die  sein Gesicht ausstrahlte, noch das Lächeln 
das  seinen Mund umspielte, als er 
an  den Boden gedrückt 
den  Pulsschlag des Todes im Herzen hörte. 
Niemand  sah seine Hände — lose und ruhig — 
die  Erde betasten, ohne Aufruhr, 
nur  in Gewissheit. 
An  den Boden geschmiegt hat er gewartet  
                                                                bis die Nacht ihn in Schatten hüllend 
mit  sich fortnahm. 
  
  
                  
                Página ampliada e republicada em janeiro de 2017
  |