Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


GREGORIO DE MATTOS

 

GREGORIO DE MATTOS

(1623-1696)

 

Gregorio de Matos Guerra.

 

Nació em Salvador, Bahia. Há vivido por treinta años en Portugal y um período de destierro em Angola por sus actitudes y escritos considerados infames para la Iglesia y el Estado. Influencia de la poesía quinientista portuguesa y del barroco español. Gran lírico amoroso, religioso y satírico. Describe con gran acuidad las costumbres de Bahia. Considerado poeta maldito.

 

“... aterrando os imbecis, impondo o orgulho que lhe incute esse tremendíssimo talento do qual ele mesmo dizia:

“ Noutras obras de talento
Só eu sou o asneirão,
-Mas, sendo sátira, então
Só eu tenho entendimento.”

Quem fez tal registro foi  T. A. Araripe Junior em textos publicados parcialmente no Jornal do Brasil (1893), logo reunidos no livro (hoje relativamente raro):  LITTERATURA BRAZILEIRA – GREGÓRIO DE MATTOS  (Rio de Janeiro: Fauchaon & Cia, 1894.  150 p.) que faz a biografia e analisa a obra do poeta baiano de forma muito contundente, considerando-o um perverso, um furioso, conceito bem diferente do que hoje em dia se atribui ao "boca do Inferno"... Mas o ensaio de Araripe Junior merece leitura por sua erudição e por revelar uma visão típica do final do século XIX.Cabe ressaltar ainda o capítulo em que expõe e conceitua a poesia satírica.    A.  M.

“O Boca do Inferno”, como foi apelidado por sua vertente crítica e impiedosa, nos legou, para iniciar este nosso espaço “gregoriano”, o seguinte poema. Qualquer semelhança com os tempos que vivemos, com as possíveis diferenças, não é mera coincidência:

 

[ BAHIA ]

Que falta nesta cidade? ------------- Verdade.
Que mais por sua desonra? ----------- Honra.
Falta mais que se lhe ponha? ------Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste socrócio? -------- Negócio.
Quem causa tal perdição? ---------- Ambição.
E no meio desta loucura? ------------- Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe, que o perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são os seus doces objetos? ---- Pretos.
Tem outros bens mais maciços? --- Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?-- Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo o povo asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?  - Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas? –---- Guardas.
Quem as tem nos aposentos? --  Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que a justiça a resguarda? –-- Bastarda.
É grátis distribuída? ------------- Vendida.
Que tem, que a todos assusta? - Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia? –-------- Simonia.
E pelos membros da Igreja? –-- Inveja.
Cuidei, que mais se lhe punha? – Unha.

Sazonada caramunha!
Enfim, que na Santa Sé
O que mais pratica, é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras? -- Freiras.
Em que ocupa os serões? --- Sermões.
Não se ocupam em disputas? – Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já se acabou? ------Baixou.
E o dinheiro se extinguiu? --- Subiu.
Logo já convalesceu? –----- Morreu.

Á Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal cresce,
Baixou, subiu e morreu.

A Câmara não acode? ---------- Não pode.
Pois não tem todo o poder? --–- Não quer.
É que o Governo o convence?– Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera, e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
 

 

 

GREGORIO DE MATTOS

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL

 

TEXTO EN ITALIANO

 

TEXT IN ENGLISH

 

 

Veja também POESIA VISUAL de Gregório de Matos

 

Veja também>>>OS CONCEITOS DE AUTORIA E ORIGINALIDADE NA OBRA DE GREGÓRIO DE MATTOS: UMA CONTROVÉRSIA, por Antonio Miranda - resenha do livro de João Adolfo Hansen

 

 

SONETO

 

                            Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,

                            Em cuja lei protesto de viver,

                            Em cuja santa lei hei de morrer

                            Animoso, constante, firme, e inteiro.

 

                            Neste lance, por ser o derradeiro,

                            Pois vejo a minha vida anoitecer,

                            É, meu Jesus, a hora de se ver

                            A brandura de um Pai, manso Cordeiro.

 

                            Mui grande é vosso amor, e meu delito,

                            Porém pode ter fim todo o pecar,

                            E não o vosso amor, que é infinito.

 

                            Esta razão me obriga a confiar,

                            Que mais que pequei, neste conflito

                            Espero em vosso amor de me salvar.

 

 

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR

 

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Porque quanto mais tenho delinqüido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

 

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido;

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão .lisonjeado.

 

Se uma ovelha perdida e já cobrada

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na sacra história,

 

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória. 

 



Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência

da Dama a quem queria bem

 

Ardor em firme coração nascido;

Pranto por belos olhos derramado;

Incêndio em mares de água disfarçado;

Rio de neve em fogo convertidos:

 

Tu, que em um peito abrasas escondido;

Tu, que em um rosto corres desatado;

Quando fogo, em cristais aprisionado;

Quando. cristal, em chamas derretido:

 

Se és fogo, como passas brandamente?

Se és neve, como queimas com porfia?

Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

 

Pois para temperar a tirania,

Como quis que aqui fosse a neve ardente,

Permitiu parecesse a chama fria.

 



Ao Governador Antônio de Sousa de Meneses,

chamado vulgarmente o "Braço de Prata"

 

Sôr Antônio. de Sousa de Meneses,

Quem sobe ao alta lugar, que não merece,

Homem sobe, asno vai, burro parece,

Que a subir é desgraça muitas vezes.

 

A fortunilha, autora de entremezes,

Transpõe em burro herói que indigno cresce;

Desanda a roda, e logo homem parece,

Que é discreta a fortuna em seus reveses.

 

Homem sei eu que foi Vossenhoria

Quando o pisava da fortuna arada;

Burra foi ao. subir tão alto clima.

 

Pais, alto! Vá descenda ande jazia,

Verá quanto melhor se lhe acomoda

Ser homem em baixo do que burro em cima

 

 


AOS VÍCIOS

 

Eu sou aquele que os passados anos

Cantei na minha lira maldizente

Torpezas do Brasil, vícios e enganos.

 

E bem que os descantei bastantemente,

Canto segunda vez na mesma lira

O mesmo assunto em plectro diferente.

 

Já sinto que me inflama e que me inspira

Tália, que anjo é da minha guarda

Des que Apolo mandou que se assistira.

 

Arda Baiona, e todo o mundo arda,

Que, a quem de profissão falta à verdade,

Nunca a dominga das verdades tarda.

 

Nenhum tempo excetua a cristandade

Ao pobre pegureiro de Parnaso

Para falar em sua liberdade.

 

A narração há de igualar ao caso,

E, se talvez ao caso não iguala,

Não tenho por poeta o que é Pegaso.

 

De que pode servir calar quem cala?

Nunca se há de falar o que se sente?

Sempre se há de sentir o que se fala.

 

Qual homem pode haver tão paciente,

Que, vendo o triste estado da Bahia,

Não chore, não suspire e não lamente?

 

Isto faz a discreta fantasia:

Discorre em um e outra desconcerto,

Condena o roubo, increpa a hipocrisia.

 

o néscio, o ignorante, o inexperto,

Que não elege o bom, nem mau reprova,

Por tudo passa deslumbrada e incerto.

 

E, quando vê talvez na doce trova

Louvado o bem, e o mal vituperado,

A tudo faz facinho, e nada aprova.

 

Diz lago, prudentaço e repousada:

—Fulano é um satírico, é um louco,

De língua má, de coração danado.

 

Néscio, se disso entendes nada ou pouco,

Como mofas com riso e algazarras

Musas, que estimo ter, quando as invoca?

 

Se souberas falar, também falaras,

Também satirizaras, se souberas

E se foras poeta, poetizaras.

 

A ignorância dos homens destas eras,

Sisudos faz ser uns, outros prudentes,

Que a mudez canoniza bestas-feras.

 

Há bons por não poder ser insolentes,

Outros há comedidos de medrosos,

Não mordem outros não - por não ter dentes.

 

Quantos há que as telhados têm vidrosos,

E deixam de atirar sua pedrada,

De sua mesma telha receiosos?

 

Uma só natureza nos foi dada;

Não criou Deus os naturais diversos;

Um só Adão criou, e esse de nada.

 

Todos somas ruins, todas perversos,

Só nos "distingue o vício e a virtude,

De que uns são comensais, outros adversos.

 

Quem maior a tiver, do que eu ter pude,

Esse'só me censure, esse me note,

Calem-se as mais, chitão e haja saúde!

 

(De Obras)

 

Gregório de Mattos e Guerra

De
Gregório de Mattos e Guerra
POEMAS SELECIONADOS
Ilustrações Sante Scaldaferri
Brasília: Confraria dos Bibliófilos do Brasil, 2010.  
99 p.   ilus.  Capa de  papel marmorizado e na sobrecapa papel
 fabricado à mão, com fibras vegetais.Miolo com papel Chamois Bulk de 90 g.
 Edição regular de 351 exemplares  numerados de 000 a 350, assinados pelo
ilustrador e pelo editor Salles, e mais alguns exemplares especiais sem numeração
.
Acondicionado em estojo de cartão endurecido.

 


AO HORROROSO COMETA QUE APARECEU NA BAHIA<
PROUCOS DIAS ANTES DA MEMORÁVEL PESTE CHAMADA
A "BICHA", SUCEDIDA NO ANO DE 1686

SONETO


Se é estéril, e fomes dá o cometa,
Não fica no Brasil viva criatura,
Mas ensina do juízo a Escritura,
Cometa não o dar, senão trombeta.

Não creio que tais fomes nos prometa
Uma estrela barbada em tanta altura,
Prometerá talvez, e porventura
Matar quatro saiões de imperialeta.

Se viera o cometa por coroas,
Como presume muita gente tonta,
Não lhe ficar clérigo, nem frade,

Mas ele vem buscar certas pessoas:
Os que roubam o mundo com a vergonta,
E os que à justiça falta, e à verdade.

 



 A UM LIVREIRO QUE HAVIA COMIDO UM CANTEIRO DE
ALFACES COM VINAGRE

DÉCIMA


Levou um livreiro a dente
de alface todo um canteiro,
e comeu, sendo livreiro,
desencadernadamente.
Porém, eu digo que mente
a quem disso o quer taxar;
antes é para notar
que trabalhou como um mouro,
pois meter folhas no couro
também é encadernar.

A UMA SAUDADE

SONETO


Em o horror desta muda soledade,
Onde voando os ares a porfia,
Apenas solta a luz a aurora fria,
Quando a prende da noite a escuridade.

As cruel apreensão de uma saudade!
De uma falsa esperança fantasia,
Que faz que de um momento passe a um dia,
E que de um dia passe à eternidade!

São da dor os espaços sem medida,
E a medida das horas tão pequena,
Que não sei como a dor é tão crescida.

Mas é troca cruel, que o fado ordena;
Porque a pena me cresça para a vida,
Quando a v ida me falta para a pena.

 

 

 

MATOS, Gregório dePoemas atribuídos : Códice Asensio-Cunha, volume 1.  João Adolfo Hansen, Marcello Moreira, edição e estudo. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2013. 543 p.  capa dura, sobrecapa.    ISBN 978-85-8217-307-7   Capa:         Diogo Droschi, sobre imagem de Ulisse Aldrovandi.  “ Gregório de Mattos “ Ex. bibl. Antonio Miranda

Faz parte de uma edição em 5 volumes, de alta qualidade tanto de tratamento do conteúdo quanto do ponto de vista gráfico.

 

Querem-me aqui todos mal,

Mas eu quero mal a todos,

eles, e eu por vários modos

nos pagamos tal por qual.

E querendo eu mal a quantos

me tem ódio tão veemente,

O meu ódio é mais valente,

pois sou só, e eles são tantos.

Algum amigo, que tenho,

se é. que tenho algum amigo,

me aconselha, que o que digo,

o cale, com todo o empenho.

Este m'o diz, diz-me o outro,

que me não fie daquele;

que farei, se me diz dele,

que me não fie aquel'outro?

 

 

Era o Doutor Gregório de Matos acérrimo inimigo de toda a hipocrisia, virtude, quese pudera, devia moderar, atendendo ao costume dos presentes séculos, em acoreta se enfastia da virtude crua. Mas seguindo os ditames de sua natural impertinência habitava os extremos da verdade com escandalosa virtude, como se nunca houveram de acabar as singelezas da primeira idade; e bem que se comunicava com os doudos daquela prodigiosa chuva, nunca se resolveu a molhar a cabeça, como diz expressamente em seu lugar;

e desta contumácia lhe nasciam os quebradouros dela: nem havia lisonja, que fomentasse as durezas daquele desengano.

 

 

A Morte violenta, que Luís Ferreira de Noronha

Capitão da Guarda do Governador António Luís

deu a José de Melo Sobrinho deste Prelado.

 

Soneto

 

Brilha em seu auge a mais luzida estrela,

Em sua pompa existe a flor mais pura,

Se esta do prado frágil formosura,

Brilhante ostentação do céu aquela.

 

Quando ousada uma nuvem a atropela,
Se a outra troca em lástima a candura,

Que há também para estrelas sombra escura,

Se para flores há, quem as não zela.

 

Estrela, e flor, José, em ti se encerra,

Porque ser flor, e estrela mereceu

Teu garbo, a quem a Parca hoje desterra.

 

E para se admirar o indulto teu,

Como flor te sepultas cá na terra,

Como estrela ressurges lá no céu.

 

 

MATOS, Gregório de.  Poemas atribuídos : Códice Asensio-Cunha, volume 2.  João Adolfo Hansen, Marcello Moreira, edição e estudo. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2013. 543 p.  capa dura, sobrecapa.    ISBN 978-85-8217-307-7   Capa: Diogo Droschi, sobre imagem de Ulisse Aldrovandi.  “ Gregório de Mattos “ Ex. bibl. Antonio Miranda.  “ Gregório de Mattos “ Ex. bibl. Antonio Miranda

Faz parte de uma edição em 5 volumes, de alta qualidade tanto de tratamento do conteúdo quanto do ponto de vista gráfico.

 

 

[53-54]

 

Ao Mesmo* com. presunções de sábio, e engenhoso.

 

Soneto

 

Este Padre Frisão, este sandeu

Tudo o demo lhe deu, e lhe outorgou,

Não sabe musa musae, que estudou,

Mas sabe as ciências, que nunca aprendeu.

 

Entre catervas de asnos se meteu,

E entre corjas de bestas se aclamou,

Naquela Salamanca o doutorou,

E nesta salacega floresceu.

 

Que é um grande alquimista, isso não nego,

Que alquimistas do esterco tiram ouro,

Se cremos seus apógrifos conselhos.

 

E o Prisão as Irmãs pondo ao pespego,

Era força tirar grande tesouro,

Pois soube em ouro converter pentelhos.

 

*Ao mesmo clérigo  apelidado de Asno pelo poeta..

 

 

MATOS, Gregório de.  Poemas atribuídos : Códice Asensio-Cunha, volume 3.  João  Adolfo Hansen, Marcello Moreira, edição e estudo. Belo Horizonte, MG: Autêntica  Editora, 2013. 543 p.  capa dura, sobrecapa.    ISBN 978-85-8217-307-7   Capa:  Diogo Droschi, sobre imagem de Ulisse Aldrovandi.   “ Gregório de Mattos “ Ex. bibl.
            Antonio Miranda

 

 

[256-257]

 

Ao célebre Frei Joanico compreendido em Lisboa

em crimes de sodomita.

 

Soneto

 

Furão das tripas, sanguessuga humana,

Cuja condição grave, meiga, e pia,

Sendo cristel dos Santos algum dia,

Hoje urinol dos presos vive ufana.

 

Fero algoz já descortês profana

Sua imagem do nicho da enxovia,

Que esse amargoso traje em profecia

Com a lombriga racional se dana.

 

Ah, Joanico fatal, em que horóscopos,

Ou porque à costa, ou porque à vante deste,

Da camandola Irmão quebraste os copos.

 

Enfim Papagaio humano te perdeste,

Ou porque enfim darias nos cachopos,
Ou porque em culis mundi te meteste.

 

MATOS, Gregório de.  .Poemas atribuídos : Códice Asensio-Cunha, volume 4.  João Adolfo Hansen, Marcello Moreira, edição e estudo. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2013. 543 p.  capa dura, sobrecapa.    ISBN 978-85-8217-307-7   Capa: Diogo Droschi, sobre imagem de Ulisse Aldrovandi.  “ Gregório de Mattos “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

[128]

 

Tendo Brites dado algumas esperanças ao Poeta se

lhe opôs um sujeito de poucos anos, pertendendo-a

por esposa, razão por onde veio ela a desviar-se,

desculpando-se por ser já velho.

 

Décimas

 

1

 

P. Ao Velho, que está na roça,

    que fuja às Moças dizei.

R. A bofe não fugirei,

    enquanto Brites for moça.

    Se lhe não fazeis já mesa,

    por que não heis de fugir?

P. Por quê? Porque hei de cumprir

    co'a obrigação de cascar,

    dando-lhe sete ao entrar,

    e quatorze ao despedir.

 

2

 

    E já que em vosso sujeito

    há fidalguia estirada

    honrai-me, que a que é honrada

    não perde a um velho o respeito.

P. Tendes comigo mau pleito

    pelas cãs, que penteais.

R. Nisso mais vos enganais,

    que eu penteio desenganos,

    não pelo peso dos anos,

   pelo pesar, que me dais.

 

 


MATOS, Gregório de.  Para que todos entendais. Poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra. Letrados, manuscritura, retórica, autoria, obra e público na Bahia dos  séculos XVII e XVIII, volume 5.  João Adolfo Hansen, Marcello Moreira, edição e estudo.  Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2013. 543 p.  capa dura, sobrecapa. ISBN 978-85-8217-307-7   Capa: Diogo Droschi, sobre imagem de Ulisse Aldrovandi.  “ Gregório de Mattos “ Ex. bibl.   Antonio Miranda

 

 

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL 

 

Lea también el ENSAYO:

GREGORIO DE MATOS: um poeta rebelde y maldito del SETECIENTOS brasileño
por WASHINGTON BENAVIDES (Uruguay) [GREGORIO DE MATTOS]

 

 

 

SONETO

 

Traducción de FRANCISCO VILLAESPESA

 

 

Mi Dios, que estais pendiente en un madero,

en cuya fe protesto de vivir,

y en cuya santa ley he de morir

animoso, constante, firme, entero.

 

En ese lance, que será el postrero,

pues miro ya mi vida sucumbir,

para alentarme, padre mío, oír

vuestras palabras de perdón espero.

 

Muy grande es vuestro amor y mi delito;

mas puede tener fin todo pecado

y nunca vuestro amor, que es infinito.

 

Y esta razón me obliga a confiar

que por más que pequé, en este estado

vuestro paterno amor me ha de salvar!

 

 

 

     Traducciones de Ricardo Silva-Santisteban

 

 

 

A JESUCRISTO NUESTRO SEÑOR

 

Pequé, Señor, mas no porque he pecado,

de tu grande clemencia me despido;

porque cuanto más tengo delinquido,

te tengo en perdonar más empeñado.

 

Si para airarte basta gran pecado,

para ablandarte bástate un gemido;

pues el pecado aquel que te ha ofendido

para el perdón te tiene lisonjeado.

 

Si una oveja perdida y recobrada

gloria y placer te día tan repentino,

como se afirma en la sagrada historia,

 

yo soy, Señor, la oveja descarriada:

tómame; y no quieras, pastor divino,

perder en esta oveja tu alta gloria.

 

 

A los afectos y lágrimas derramadas

en ausencia de la dama a quien quería bien

 

Ardor en firme corazón nacido;

planto por bellos ajas derramado;

incendio en mares de agua disfrazado;

ríos de nieve en fuego convertido:

 

tú, que en un pecho abrasas escondido;

tú, que en un rastro corres desatado;

cuando fuego, en cristal aprisionado;

cuando cristal, en llamas derretido.

 

Si fuego, ¿cómo pasas suavemente?

Si nieve, ¿cómo quemas con porfía?

¡Mas, ay, que anduvo Amor en ti prudente!

 

Pues que para templar la tiranía,

como quiso que fuese nieve ardiente,

permiti6 parecerse a llama fría.

 

 

AI Gobernador Antonio de Sousa de Meneses

llamado vulgarmente el "Brazo de Prata"

 

Seor Antonio de Sousa de Meneses,

quien asciende al lugar que no merece,

hombre asciende, asno va, burro parece,

que ascender es desgracia muchas veces.

 

La fortunilla, autora de entremeses,

vuelve asno al héroe que indigno crece:

al desandar la rueda, hombre parece,

que fortuna es discreta en sus reveses.

 

Yo sé que un hombre fue su Señoría

al ascender Ia rueda del destino;

mas burro fue al subir tan alto clima.

 

Pero ¡alto! que al bajar de do yacía,

ya verá que no es grande desatino

hombre ser aquí abajo no asno encima.

 

 

A LOS VÍCIOS

 

Yo soy aquel que en los pasados años

cantaba con mi lira maldiciente

torpezas del Brasil, vicios y engaños.

 

Y bien que os descanté tan largamente,

canto de nuevo con la misma lira,

el mismo asunto en plectro diferente.

 

Y siento que me inflama y que me inspira

Talía, que es ángel de mi guarda

desque a Febo mandó que me asistiera.

 

Arda Bayona y todo el mundo que arda

que, quien por profesión calla verdad,

nunca el domingo de verdades tarda.

 

Ningún tiempo exceptuó la cristiandad

al pobre zagalillo del Parnaso

para hablar en completa libertad.

 

La narración ha de igualar el caso,

y, si tal vez al caso no detalla,

no tengo por poeta al que es Pegaso.

 

¿De qué sirve callar a quien se calla?

¿Nunca se ha de decir lo que se siente?

Siempre se ha de sentir lo que se falla.

 

¿Puedeexistir un hombre tan paciente

que, viendo el triste estado de Bahía,

no llore, no suspire, no lamente?

 

Esto hace la diversa fantasía:

discurre en uno u otro desconcierto,

condena el robo, increpa la falsía.

 

El necio, el ignorante, el inexperto,

que no prefiere el bien ni el mal reprueba,

por todo pasa ciego, pasa incierto.

 

Y, al ver tal vez que en dulce trova lleva

loado el bien y el mal vituperado,

a todo muestra enojo y nada aprueba.

 

Dice luego, prudente y reposado:

"fulano es un satírico y un loco,

de lengua mala y corazón airado".

 

Necio, si es que no entiendes nada opaco,

¿qué te burlas, con risas y algazaras,

de Musas que ardo as ir si las invoco?

 

Si supieras hablar, también hablaras,

también satirizaras, si supieras,

y si fueras poeta, poetizaras

.

Lo torpe de los hombres destas eras,

a unos sabios hace, a otros prudentes:

la mudez canoniza bestias-fieras.

 

Buenos, por no poder ser insolentes,

otros hay comedidos por medrosos,

no muerden otros pues les faltan dientes.

 

Con tejado de vidrio, los furiosos

se abstienen de arrojar una pedrada,

de su insegura teja recelosos.

 

Una sola natura nos fue dada;

no creó Dios otros seres diversos;

un solo Adán creó, y de la nada.

 

Todos somos muy ruínes y perversos,

nos distinguen el vicio y la virtud,

hay quienes les son fieles; hay adversos.

 

Sólo el que tenga gran excelsitud,

solo ése me censure, ése me note,

y los demás, chitón ¡y haya salud!

 

 

 

 

De
Washington Benavides
Poesía y transcriación.
Abordajes a la literatura brasileña.  
Montevideo: Ediciones Biblioteca Nacional, 2007.  82 p.
(Cuadernos de Literatura 1)  ISBN  978-9974-550-30-8

 

 

Describe lo que era en aquel tiempo

la ciudad de Bahía

 

Soneto

 

A cada canto un grande Consejero

que nos quiere mandar en rancho y viña;

no saben gobernar su nadería

y pueden gobernar el mundo entero.

 

En cada puerta un vigilante puesto

que la vida al vecino y la vecina

pesquisa, escucha, acecha y escudriña

por llevarlo a la Plaza y el Terreiro.

 

Mulatos muchos y desvergonzados

caminan por encima de los nobles,

puesta en las palmas toda picardía.

 

Estupendas usuras los mercados,

todos, los que no roban, son muy pobres,

y he aquí la ciudad, la de Bahía.

 

 

 

Describe la vida monástica

 

Soneto

 

Muchacho sin dinero, buen birrete,

mediocre vestidura, buen zapato,

viejas medias, calzón de pelegato,

el cabello peinado, buen copete.

 

Presumir de danzar, cantar falsete,

juego de la hidalguía, bien barato.

Contar mentira al Mozo de su trato,

robar la carne al ama, que promete.

 

A la putita aldeana hallada en feria,

eterno murmurar de ajenas famas,

soneto infame, sátira elegante...

 

Equívocas cartitas a la Monja,

comer buey, ser Quijote con las Damas,

poco estudio, esto es ser estudiante.

 

 

 

Describe la jocosidad con que las mulatas del Brasil

bailan el paturí

 

Cancioncilla

 

Al son de una guitarrita

que tocaba un chiquilín,

vi bailar en «Agua Brusca»

las mulatas del Brasil.

Qué bien bailan las Mulatas,

Qué bien bailan Paturí!

No usan las castañuelas

porque con palma gentil

arman una batahola

que de oirías me aturdí:

 

Qué bien bailan las Mulatas,

qué bien bailan Paturí.

Por las ingles ataviadas

con cintas de carmesí,

de ver tan grandes barrigas

les temblequeaba el cuadril.

Qué bien bailan las Mulatas,

qué bien bailan Paturí.

Así levantan las sayas

para los pies descubrir,

y que sirvan de punteros

para la alumna aprendiz,

qué bien bailan las Mulatas,

qué bien bailan Paturí!

 

 

Describe la confusión del festejo

del Santo Entrudo.

 

(Estos festejos en el Brasil antiguo dieron origen al Carnaval)

Soneto

 

Buñuelos y tajadas, mal asadas

Gallinas, puerco, vaca, y más carnero,

Los pavos en poder del Pastelero,

empinar, hacer pullas, naranjadas.

Poner rabos, pintar, dar risotadas,
Gastar para comer mucho dinero,

a destajo servir el Tabernero,

Con ristras de cebollas dar mazadas.

 

Por ventana tirar toda la gente,

la bocina tocar, quebrar pucheros,

tragar lo que se pudo y no se pudo.

 

Sin perdonar arroz, cuscuz caliente,

dejar los platos y tazones hueros,

éstas las fiestas son del Santo Entrudo.

 

 

 

A otra hermana que satirizando la delgada

fisonomía del poeta lo llamó de "pica-flor"

 

Décima

 

Si Pica-Flor me llamáis

Pica-Flor acepto ser,

mas resta ahora saber

si en el nombre que me dais

pones la flor, que guardáis

al pajarito mejor!.

Si me dais este favor

siendo de mí sólo el Pica

vuestro lo demás, se explica

que me quede en Pica-Flor.

 

 -------------------------------------------------------------

 

 

 

 

BUSCANDO A CRISTO

 

A vós corriendo voy, brazos sagrados,
En la cruz sacosanta descubiertos,
Que para recibirme estais abiertos
Y por no castigarme estais clavados;

 

A vós, ojos divinos eclipsados,
De tanta sangre y lagrimas cubiertos,
Que para perdonarme estais despiertos,
Y  por no confundirme estais cerrados.

 

A vós, clavados piés, para no huirme;
A vós, cabeza haya por llamarme;
A vós, sangre vertida para ungirme;

 

A vós, costado abierto, quiero unirme,
A vós, clavos preciosos, quiero atarme
Con ligadura dulce, estable y firme.

 

 

(traductor desconocido)

 

 

 ==============================================================

 

 

TEXTO EN ITALIANO

 

 

Extraído de

 

 

MIRAGLIA, TolentinoPiccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

INCOSTANZA

 

Nasce il sole e soltanto un giorno indora.
Dopo la luce, vien la notte scura.
Nell’ombra triste, muore la figura
E l'allegria, nella tristezza ognora.

 

Ma se finisce il sol, perche l’aurora ?
Se bella la luce è, perche non dura ?
E perchè la beltà si trasfigura ?
Perchè il piacer la pena non deplora ?

 

Ma se non c'è nel sole la fermezza,
Nella bellezza mai c'è la costanza
E, nella gioia, sempre la tristezza,

 

Cominei il mondo infin dall’ignoranza,
Poiché, in tutto il ben c'è l’incertezza,
C'è la fermezza sol nell’.incostanza.

 

 

A GESÚ CRISTO, NOSTRO SIGNORE

 

Peccai, Signor, ma non perche ho peccato
Dalla vostra clemenza mi concedo.
Perché con il delinquere, io credo,
Che v'ho a perdonar piu impegnato.

 

Ché se basta ad irarvi un tal peccato,
Per calmarvi, un sol gemito io chiedo.
Cosi la stessa colpa, lo prevedo,
Vi avrà per il perdono lusingato.

 

Se la pecora persa, ricercata,
Vi diè gloria e piacere repentino,
Come affermate nella Sagra Storia,

 

lo son, Signor, la pecora sviata.
Torno. Non si vorrà, pastor divino,
Perdere con la pecora la gloria.

 

 

 

 

TEXT IN ENGLISH

 

 

POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia.  ANO 4 – NÚMERO 7 – JULHO 1996.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1996.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Description of the city of Bahia at that time

 

In every corner there's a couns'lor grand,
Who wants to govern both our home and vine;
They cannot keep the kitchen help in hand,
Yet they can rule the whole wide world just fine.

 

At every door a frequent pair of eyes,
Whose neighbors' lives (each male and female pair)
They search, they hear, they spy, they scrutinize,
Then take it to the park and public square.

 

Mulattoes with no decency abound,

Who tread beneath their feet our noblemen,

In high esteem all devilry is found,

 

Stupendous usury fills the market floor,
And those who do not steal are poor as sin:
Lo thus, Bahia's city, Salvador.

 

 

Tradução de Frederick G. Williams

 

 

THE OXFORD BOOK OF LATIN AMERICAN POETRY: a bilingual anthology   edited by Cecilia Vicuña and Ernesto Livon-Grosman. Agawam. MA, USA: Oxford University Press, 2009.  561 p.  16x24,5 cm. Contracapa, capa dura.  ISBN 978-0-19-512454-5

 

Inclui os poetas brasileiros: Gregório de Matos, Antonio Gonçalves Dias,  Manuel  Antonio Alvares de Azevedo, Sousândrade,  Antonio de Castro Alves, João da Cruz e  Sousa, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Pedro Kilkerry, Manuel Bandeira, Oswald de  Andrade, Mário de Andrade, Raul Bopp, Cecilia Meireles, Carlos Drummond de  Andrade, Apolônio Alves dos Santos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto  de Campos, Paulo Leminski.

 

To this day, both the life and work of Matos remains somewhat shrouded in mystery. Although he wrote in the seventeenth century, his work was not discovered until the late nineteenth century. There has been continued debate by biographers regarding the true nature and identity of the author, as his literature exists only in unsigned, apocryphal form. Scholarly debate has also alleged possible plagiarism in "O boca do inferno" (Hell's Mouth). Highly erotic and satirical, Matos's works focused on the state of Bahia, Brazil, his place of birth. PRINCIPAL WORKS: Florilegio da poesia brasileira (1946), Obras completas (1968), Parnaso brasileiro (1976)

 

Define Your City / Define a sua cidade

 

Mark A. Lokensgard, trans.

 

 

This city of two f's is made,

This city and its ruck,

The first, filch, the second, fuck.

A man abridged the law,

And he who it abbreviated

With two f's it elucidated

And did so well, without a flaw.

It well digested, this truth he saw:

With only two f's is it expounded

And thus any with reason well grounded

Who hears this thesis will understand

And must agree that this land

On two f's was founded.

If of two f's is composed

Our Bahia, this city,

Erred is its orthography

And great harm to it is posed.

A wager then I will propose

And I will that penny pay,

For this error leads the town astray

If the filch and fuck not be

The f's that has our common city

As I with sureness say.

I'll prove my thesis straightaway

And rightly, with a jest:

Of five letters is it possessed

Which gives B-A-H-I-A,

Nobody would dare to say

That two f's to it are stuck

For none it has, by luck

Except in this veracity:

The two f's that has our city:

One filch, the other, fuck.

 

 

De dous ff se compõe / esta cidade a meu ver / um furtar, outro foder.// Recopilou-se o direito,/ e quem o recopilou/ com dous ff o explicou/ por estar feito, e bem feito:/ por bem digesto,/ e colheito,/ só com dous ff o expõe,/ e assim quem os olhos põe/ no trato, que aqui se encerra,/ há de dizer que esta terra/ De dous ff se compõe.// Se de dous ff composta/ está a nossa Bahia,/ errada a ortografia/ a grande dano está posta:/ eu quero fazer aposta,/ e quero um tostão perder,/ que isso a há de perverter,/ se o furtar e o foder bem/ não são os ff que tem/ Esta cidade a meu ver.// Provo a conjetura já / prontamente com um brinco:/ Bahia tem letras cinco/ que são B-A-H-I-A,/ logo ninguém me dirá/ que dous ff chega a ter,/ pois nenhum contém sequer,/ salvo se em boa verdade/ são os ff da cidade/ um furtar, outro foder.

 

Upon Finding an Arm Taken from the Statue of the Christ Child of Our Lady of the Wonders, Which Was Profaned by Unbelievers at the Sea of Bahia / Achando-se um bra? perdido do menino Deus Dd N.S. Das Maravilhas, que desacataram infieis na Sé da Bahia

 

                                                                                   Mark A. Lokensgard, trans.

The whole without the part, is not whole;
the part without the whole is not a part;
but if the part makes it whole, being a part,
let it not be said a part, being the whole.

In the whole Sacrament God is whole,
and exists as a whole in every part,
and though everywhere He is split apart,
in every part He is always whole.

Let not the arm of Jesus be a part,
for Jesus thus parted in his whole,
exists for his part in each part.

Not knowing itself part of the whole,
an arm which was taken as a part,
tells us of the whole parts of the whole.

 

O todo sem a parte, não é todo;/ a parte sem o todo não é parte;/ mas se a parte o faz todo, sendo parte,/ não se diga que é parte, sendo o todo.// Em todo o Sacramento está Deus todo,/ e todo assiste inteiro em qualquer parte,/ e feito em partes todo em toda a parte,/ em qualquer parte sempre fica todo.// O braço de Jesus não seja parte,/ pois que feito Jesus em partes todo,/ assiste cada parte em sua parte.// Não se sabendo parte deste todo, / um braço que lhe acharam sendo parte, / nos diz as partes todas deste todo.


 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS

 

SONETO XIV

 

Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia.

 

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés de homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usinas nos mercados,
Todos os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

 

        (OBRAS – Edição da Academia Brasileira)

 

 

 

SONETO XXVI

Descrição da Vila do Recife.

 

Por entre o Beberibe e o Oceano,
Em uma arei sáfia e alagadiça,
Jaz o Recife, povoação mestiça,
Que o Belga edificou, ímpio tirano.

O povo é pouco, e muito pouco urbano,
Que vive de uma pura erva linguiça,
Unha de velha insípida e enfermiça,
E camarões de charco em todo o ano.

As damas cortesãs e mui rasgadas,
Olhas podridas, sopas pestilentas,
Sempre com purgações nunca purgadas.

Mas a culpa têm suas Reverências,
Que as trazem tão rompidas e escaladas,
Com cordões, com bentinhos e indulgências.

 

      (Obra citada)

 

 

 

Descreve o Poeta, racional e verdadeiramente queixoso, os
extravagantes meios com que os estranhos dominam
indignações sobre os naturais de sua Pátria.

 

 

Senhora Dona Bahia,
Nobre e opulenta cidade,
Madrasta dos naturais,
E dos estrangeiros madre;

Dizei-me por vida vossa
Em que fundais o ditame
De exaltar os que aqui vêm,
E abater os que aqui nascem.

Se o fazeis pelo interesse
De que os estranhos vos gabem,
Isso os paisanos fariam
Com conhecidas vantagens.

E suposto que os louvores
Em boca própria não valem,
Se tem força essa sentença,
Mor força terá a verdade.

O certo é, pátria minha,
Que fostes terra de alarves,
E inda os ressábios vos duram
Desse tempo e dessa idade.

Haverá duzentos anos,
Nem tantos podem contar-se
Que ereis uma pobre aldeia,
Hoje sois rica cidade.

Então vos pisavam índios
E vos habitavam Cafres,
Hoje chispais fidalguias
E arrojais personagens.

 

A essas personagens vamos,
Sobre elas será o debate,
E Deus queira que vencer-vos
Para envergonhar-vos baste.

Sai um pobrete de Cristo
De Portugal ou de Algarve,
Cheio de drogas alheias
Para daí tirar gages.

O tal foi sota tendeiro
De um cristão novo em tal parte,
Que por aqueles serviços
O despachou a embarcar-se.

Fez-lhe uma carregação
Entre amigos e compadres,
E ei-lo comissário feito
De linhas, lonas, beirames.

Entra pela barra dentro,
Dá fundo e log a entonar-se
Começa a bordo da nau
Co´um vestidinho flamante.


Salta em terra, toma casas,
Arma a botica dos trastes,
Em casa come baleia,
Na rua antoja manjares.

Vendendo gato por lebre,
Antes que quatro anos passem
Já tem tantos mil cruzados
Conforme afirmam pasguates.

Começam a olhar para ele
Os pais que já querem dar-lhe
Filha e dote, porque querem
Homem que  coma e não gaste.

 

............................................

Entra logo nos pelouros,
E sai do primeiro lance
Vereador da Bahia,
Que é notável dignidade.

 

......................................

 

            (Obra citada )

 

 

MATTOS, Gregório de.  Poemas selecionados.   Ilustrações de  Sante Scaldaferri.  Brasília:     Confraria dos Bibliófilos do Brasil, 2010.  99 p.  ilus.      

                  

                       

ESTANDO O POETA REFUGIADO DE SUA MESMA
POBREZAAA NA ILHA DE MADRE DE DEUS,
TEVE NOTÍCIA DA MORTE DE UM SEU FILHO, E QUE
FORA ENERRADO MISERAVELMENTE, E PROVOCADO
DA SUA PENAM, FEZ ESTA DÉCIMAS

 

              Ah, Senhor! quanto me pesa
             que vos ofender, de sorte
             que sendo o crime de morte,
             me castigais com pobreza:
             se a nossa antiga fraqueza
             e primeiro trato dobre
             pena mortal, que a soçobre,
             destes por lei, que eu suporto,
             como me livrais de morto,
             e me condenais a pobre?

             Dirá vossa indignação,
             que me dais pobreza, e vida
             porque viva mais sentida
             minha pena, e aflição:
             que os mortos não sentem não;
             e assim para que eu mais sinta
             a dor, que ao morrer requinta,
             pois vivendo é mais amarga,
             me dais a vida tão larga,
             porque a morte é tão sucinta.

             Seja, Senhor, o que digo,
             ou outra seja a verdade,
             faça-se a vossa vontade,
             tenha eu vida por castigo:
             e quando o tempo inimigo
             a carícias me condene,
             tanto eu viva, e tanto pene,
             tanto padeça, e de sorte,
             que se há de aliviar-me a morte,
             nunca a morte me despene.

             Por castigo mui pesado,
             e por pena mui crescida
              tenho, meu Deus, esta vida,
             mas maior é meu pecado:
             vós tendes contrapesado
             tanto as culpas, que me dais,
             que sendo a morte nos mais
             um castigo  tão condigno,
             eu nem da morte sou digno,
             e por isso ma negais.

             Notável detestação
             fazeis, Senhor, do meu cargo,
             pois não basta por descargo
             a geral satisfação:
             morrer foi pena de Adão
             da humana prole caudilho,
             e assim eu me maravilho,
             pois não pude merecer,
             morrendo satisfazer,
             que de tal Pai seja Filho.

             Se acaso me desprezais,
             porque estou pobre de lã,
             se hoje sou pobre, amanhã
             terei lã como as demais:
             vós mesmo me despojais,
             bem que por meios humanos,
             pois sirvam-me os vossos danos,
             e farei, que não se entenda,
             que o bom pra minha emenda
             é mau para os vossos panos.

             Os vossos altos decretos,
             e juízos escondidos
             não alcançam meus sentidos
             rasteiros, quanto discretos:
             mas se bastam meus afetos,
              se basta a triste memória,
             com que refiro esta história,
             de estar pobre por desgraça,
             dai-me os bens da vossa graça,
             para adquirir os da Glória.

AO DESEMBARGADOR BELCHIOR DA CUNHA BROCHADO,
CHEGANDO DO RIO DE JANEIRO À CIDADE DA BAHIA,
RECORRE O POTA, SATIRIZANDO UM JULGADOR, QUE
O PRENDEU POR ACUSAR O FURTO DE UMA NEGRA, A
TEMPO QUE SOLTOU O LADRÃO DELA

SONETO


 
Senhor Doutor, muito bem-vinda seja
 A esta mofina e mísera cidade,
 Sua justiça agora, e eqüidade,
 E letras com que a todos causa inveja.

 Seja muito bem-vindo, porque veja
 O maior disparate e iniqüidade,
 Que se tem feito em uma e outra idade
 Desde que há tribunais, e quem os reja.

 Que me há de suceder  nestas montanhas
 Com um ministro em leis tão pouco visto,
 Como previsto em trampas e maranhas?

 É ministro de império mero e misto,
 Tão Pilatos no corpo e nas entranhas,
 Que solta a um Barrabás, e prende a um Cristo.

 

 

 Página ampliada e republicada em junho de 2018

 

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar