Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




CURT MEYER-CLASON e José Jeronymo RIVERA
traduzem poemas de ANDERSON BRAGA HORTA

Anderson Braga Horta, poeta, crítico literário, tradutor, é autor de Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos, que venceu o Prêmio Jabuti 2001.
Curt Meyer-Clason, narrador, emérito divulgador em língua alemã de brasileiros como Machado de Assis, Drummond, Jorge Amado, Guimarães Rosa, reside em Munique.

É amplamente conhecido e reconhecido o trabalho de promoção da melhor literatura brasileira realizado por Curt Meyer-Clason, que viveu algum tempo entre nós e tem traduzido para o alemão diversos de nossos melhores escritores. Para lembrar apenas dois, dos maiores, citamos Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. É claro que a amplitude da obra intelectual de Meyer-Clason não cabe nestas poucas linhas; não é, de resto, o que nos propomos. Queremos, agora, destacar um fato honroso para esta Academia: a tradução, pelo ilustre mestre, de uma série de poemas de nosso confrade Anderson Braga Horta, quase todos extraídos de Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos (Massao Ohno, São Paulo, 2000), mas ainda alguns de Pulso (Barcarola, São Paulo, 2000). Enquanto se aguarda a edição do volume resultante, antecipamos algo desse trabalho, divulgando a tradução que fez Curt Meyer-Clason dos quatro primeiros poemas de Cronoscópio, livro originalmente publicado pela Civilização Brasileira, em 1983).

 

POESIA BRASILEIRA EM ALEMÃO

Brasilianische Lyrik in deutscher Sprache

Coordenação: MARCOS FREITAS

 

 

HORTA, Anderson Braga.  50 poemas.  50 gedichte CURT MEYER-CLASON. (t.) Tagore Editora. Brasília, DF: Trampolin, 2021.  215p.  Texto em Português e Alemão.   ISNM 978-85-92864-88-0     
Ex. bib. Antonio Miranda

 

 

 

AÉREO

 

O melhor de mim

está solto no vento.

Mãos, raízes, searas

e outras nuvens que invento.

 

                            Ai, o melhor de mim

                            no vento é que está.

                            Utopias, pandorgas

                            que menino avento.

 

Entretanto maduro

para todos os ares,

os semeio, e mais colho

aurassóis: cata-vento.

 

                            E, arando brisas, onde

                            me lamento, aí canto.

                            Pois o melhor de mim

                            frutifica no vento.

 

 LUFTIG

 

Das Beste an mir

steht lose im Wind.

Hände, Wurzeln, Ernten

und andere Wolken, die ich erfinde.

 

                            Ach, das Beste an mir

                            im Wind ist, was da ist.

                            Utopien, Papierdrache,

                            die ich als Kind aufspürte.

 

Mittlerweile reife ich

für alle Lüfte,

säe ich sie und ernte noch

Hauchsonnen: Wetterfahne.

 

                            Und Windstöße durchfurchend,

                            singe ich dort, wo ich mich beklage.

                            Denn das Beste von mir

                            trägt Frucht im Wind.

 

 

 

 MATEMOS A ROSA

 

A Eliezér Demenezes

 

A gripe me separa de minha família.

Casado — provisoriamente no regime de separação de corpos,

pai — provisoriamente frustrado, desterrado para o outro extremo

                                                                                              da casa,           

durmo na sala, de quarentena.

Mas não durmo: penso no porvir de meus filhos.

Não o desejarei de rosas.

Não porque pense nos espinhos

— o Homem forja-se na luta

e muita vez os espinhos valem mais do que as rosas.

Mas porque as rosas têm hoje outra carga simbólica

e já nada diferem dos cogumelos.

Pais de todo o mundo, cuidado! aos nossos filhos

não lhes demos a cheirar destas rosas,

a comer destes cogumelos.

Sei que o meu apelo é patético,

sei que somos doidos brincando no jardim,

e talvez eu mesmo ajudasse a plantar a rosa,

a dar sombra e umidade ao cogumelo.

Mas os meus filhos estão chorando

e agarram a vida com ambas as mãos no seio materno.

Quisera lhes dar a justiça que não temos construído,

o amor que não temos regado.

                 Fujamos para o quintal!

fujamos para os vastos abandonados quintais

de nascituras hortas, pomares e roçados.

A rosa corre de mão em mão

                 — quem quer a rosa?

                 — quem não quer a rosa?

                 — quem a despetala?

                 — quem lhe aduba a terra?

Fujamos para o quintal

e esqueçamo-la,

entre abóboras, repolhos e pepinos

esqueçamo-la,

sob os pimentões e o trigo

sepultemo-la com sua morte.

As batatas e as cebolas manam poesia.

 

 

 

TÖTEN WIR DIE ROSE

 

Für Eliezér Demenezes

 

Die Grippe trennt mich von meiner Familie.

Verheiratet — vorläufig in der Lebensweise getrennter Körper,

als Vater — vorläufig gescheitert,

verbannt ans äußerste Ende des Hauses,

schlafe ich im Wohnzimmer, in Quarantäne.

Aber ich schlafe nicht: ich denke an die Zukunft meiner Kinder.

Ich wünsche sie mir nicht rosig.

Nicht weil ich an die Dornen denken könnte

—    der Mensch schmiedet sich im Kampf,

und oftmals sind die Dornen wertvoller als die Rosen.

Sondern weil die Rosen heute ein anderes sinnbildhaftes Gewicht

haben und sich schon in nichts von den Pilzen unterscheiden.

Eltern der gesamten Welt, Vorsicht! Unsere Kinder

lassen wir weder diese Rosen riechen

noch diese Pilze essen.

Ich weiß, dass mein Aufruf leidenschaftlich ist,

ich weiß, dass wir verrückt sind, wenn wir im Garten spielen,

und ich selbst vielleicht mithelfen würde, die Rose zu pflanzen,

dem Pilz Schatten und Feuchtigkeit zu verschaffen.

Aber meine Kinder weinen

und klammern sich mit beiden Händen an das Leben auf der

                                                                                        Mutterbrust.

Ich möchte ihnen die Gerechtigkeit schenken die wir nicht errichtet

                                                                                                 haben,        

die Liebe, die wir nicht besprengt haben.

                 Flüchten wir in den Garten!

Flüchten wir in das weite verwahrloste Gelände

der künftigen Gemüsegärten, Obstgärten und Maniokpflanzungen.

Die Rose läuft von Hand zu Hand

—    Wer will die Rose?

—    Wer will die Rose nicht?

—    Wer entblättert sie?

—    Wer düngt ihr die Erde?

Flüchten wir in den Garten

und vergessen wir sie,

zwischen Kürbissen, Kohlköpfen und Gurken

vergessen wir sie,

begraben wir sie mit ihrem Tod

unter den Pfefferschoten und dem Weizen.

Die Kartoffeln und die Zwiebeln verströmen Dichtung.

 

 

  

SEMÂNTICA

 

As palavras morrem,

virgens, de usura,

             —Fartura—

as palavras

finam-se de desuso.

 

As palavras desviam-se,

mudam de órbita

             —Democracia—

as palavras, satélites

forçados a novos planetas.

 

As palavras ocam-se,

deslembrados signos

             —Paz, Amor—

por onde o pensamento,

como um óleo, vaza.

 

As palavras gastam-se,

oxidam-se de malícia e asco.

             —Liberdade! Liberdade!—

As palavras.

 

 

  

BEDEUTUNGSLEHRE

 

Die Wörter sterben,

jungfräulich, vom Wucher,

—    Überfluss —

die Wörter

vergehen vom Nichtgebrauch.

 

Die Wörter treiben ab,

wechseln die Einflusssphäre

—    Demokratie —

die Wörter, an neue Planeten

gekettete Trabanten.

 

Die Wörter entleeren sich,

vergessen Zeichen

—    Frieden, Liebe 

in die das Denken

wie Öl sich entleert.

 

Die Wörter verbrauchen sich,

oxydieren aus Bosheit und Ekel.

—    Freiheit! Freiheit! 

Die Wörter.

 

 

  

O MENINO

 

O menino está morto.

Reclamava comida — está morto.

Era um menino.  Está morto.

 

           — Mas ninguém tem culpa,

           foi uma bala de ricochete.

 

Está morto o menino.

O povo chora o seu filho — enterra o menino.

Está morto.  E era um menino.

 

           — Ninguém tem culpa! ninguém tem culpa!

           É a única voz que eles obedecem...

 

O menino está morto.  Viva a Ordem.

 

 

 

DER KLEINE JUNGE

 

Der kleine Junge ist tot.

Er verlangte Essen – ist tot.

Es war ein kleiner Junge. Ist tot.

 

—    Aber niemand trägt Schuld,

es war ein Prellschuss.

 

Tot ist der kleine Junge.

Das Volk beweint seinen Sohn — beerdigt den kleinen Jungen.

Er ist tot. Und  war ein kleiner Junge.

 

                 — Niemand trägt Schuld! Niemand trägt Schuld!

                 Es ist die einzige Stimme, der sie gehorchen...

 

Der kleine Junge ist tot. Es lebe die Ordnung.  

 


O TEMPO


Soa a hora, sonora,
no relógio de pêndulo.
Que sabemos do tempo?

O tempo não se deixa capturar.
E pulsa, no escuro,
como um grande pássaro.

Inútil acender o dia.
Passa (e não passa) o tempo.
Mas
não fluvial, nem nuvens: como

as correntes marinhas
no mar imóvel,
flui o tempo em si mesmo



DIE ZEIT

Die Stunde ertönt klangvoll
in der Pendeluhr.
Was wissen wir von der Zeit?

Die Zeit lässt sich nicht einfangen.
Und schlägt im Dunkeln
wie ein grosser Vogel.
Nutzlos den Tag anzuzünden.
So vergeht (und verght nicht) die Zeit.
Aber
weder flussartig, noch als Wolken: wie

die Meeresströmungen
im unbeweglichen Meer
fliesst die Zeit in sich selbst.

 


POEMA QUASE TEOLÓGICO

Cansaço
deste cansaço. Deste
fitar horizontes fechados,
crernãocrer para lá do paredão de treva
imensidades lúcidas. Cansaço:
peixe no mar do inumerável,
adstrito ao zero da esfera. Cans-
aço: casulo no infinito,
não rompê-lo. Prévio
cansaço
do inútil arranhar o espaço, - o tempo
incólume.
No tempo
erguem-se decisivas as muralhas da treva.

FAST THEOLOGISCHES GEDICHT

Erschöpfung
dieser Erschöpfung. Von diesen Anstarren
Verschlossener Horizonte
über jene Grosswand der Finsternisse hinaus
hellsichtige Unermesslichkeiten glaubennichtglauben. Erschöpfung:
Fisch im Meer des Unzäligen,
abhängig von der Null der Sphäre. Erschöpf-
ung: Samenkapsel im Unendlichen,
sie nicht aufbrechen. Vorhergegangene
Erschöpfung
vom nutzlosen Scheuern des Raums, - die heile
Zeit.
In der Zeit
erheben sich entscheidend die Mauern der Finsternis.

 


OS BILROS

Sobre a almofada, nos bilros,
curtidas mãos exercitam
líqüida paciência.

Os bilros têm sons de infância.

As mãos avultam, tranqüilas,
no alegre bater dos bilros.

Mãos e bilros, mãos e bilros
de um fundo a outro do abismo
tecendo a renda do tempo.

DIE KLOPPEL

Auf dem Kopfkissen die Klöppel
gegerbte Hände üben
flüssige Geduld.

Die Klöppel haben Klände der Kindheit.

Die Hände wachsen still
im frölichen Klappern der Klöppel.

Hände und Klöppel, Hände und Klöppel
aus einer Tiefe zur anderen des Abgrunds
weben den Ertrag der Zeit.

 


JOGO CEGO

Balançando-se, a velhinha
se debruça
sobre a tela.
No chão, o novelo
espera.
O tecido retesado
nos bastidores.
A linha pendendo
frouxa
na espera.
Não sabe o tecido a mão
que de pontos pontos pontos
o estrela.
A linha não adivinha
que quadro pinta. Se
desenovela.


BLINDES SPIEL

Sich im Gleichgewicht haltend beugt sich
die Alte
über den Stoff.
Auf dem Boden wartet
der Knäuel.
Das straffe Gewebe
auf den Stickrahmen.
Die schlaff hängende
Linie
in Erwartung.
Das Gewebe kennt nicht die Hand
die es mit Punkten Punkten Punkten
bestirnt.
Die Linie erahnt nicht
welches Bild sie malt. Sie
entknäuelt sich.

 


VERBOR

Não vejo a rosa,
vejo a palavra rosa,
incrustada num ramo de conotações verbais.
Não vejo o mundo,
vejo a palavra mundo.
Eu sou um feixe de palavras.

Mas o que jaz por debaixo de mim,
no âmago de mim,
mudas constelações!
este sou o eu outro e oculto,
garimpo que inocente
me furto.

WORTSCHWALL

Ich sehe nicht die Rose,
ich sehe das Wort Rose,
eingebaut in ein Gebiet von Wortbedeutungen.
Ich sehe nicht die Welt,
ich sehe das Wort Welt.
Ich bin ein Bündel Wörter.

Was aber unter mir liegt,
im Kern meiner selbst,
stumme Sternbilder!
dieses bin ich das andere und verborgene Ich,
Diamantenmine der ich mich unschuldig
entziehe.


MEYA PONTE. REVISTA QUADRIMESTRAL DE LITERATURA. No. 16  Editor: Arnaldo Sarty.   Pirenópolis,  Goiás: 2003.   162 p.  16 x 22,5 cm.                                                 Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 


AMOR

Amor é, não possuí-lo: amor, vivê-lo.
Possuí-lo é desvendá-lo. E amor -verdade,
beleza, poesia-, sarça ardente,
é refratário a toda matemática.

Amor é sol que não se vê mas queima.
Ave, não canta, mas lhe o canto ouvimos,
- mas de um outro entender, que só de ouvidos
da alma é ouvir cantigas represadas.

Sol e ave. Mas, ave, é um sol que brilha.
Queimar-se dele. Por suprema graça,
ver-lhe do espectro as invisíveis cores.

Jamais situá-lo, em tosca astronomia.
Pesquisá-lo é destruí-lo.
Amor, portanto:
queimar-se, e só, sem mais filosofia.


CRIANÇAS

Seus rostos de leite na penumbra.
(Sóis crescendo!)
Alegria de água clara nos berços lunares.
Sua pureza invade o quarto,
o corredor, a casa...

As janelas, abram-se as janelas!

 


LIEBE

Liebe ist nicht sie besitzen: Liebe ist sie leben.
Sie besitzen heisst sie enthüllen. Und Liebe - Wahrheit,
Schönheit, Dichtung - , brennender Dornbusch,
widerstrebt jeder Mathematik.

Liebe ist Sonne die man nicht sieht die aber verbrennt.
Vogel, er singt nicht, aber wir hören seinen Gesang,
- aber mit einem anderen Verständnis, denn nur mit dem Gehör
der Seele heisst gestaute Liedchen hören.

Sonne und Vogel. Aber Vogel ist eine Sonne die glänzt.
Sich an ihr verbrennen. Durch höchste Gnade
die unsichtbaren Farben ihres Spektrums sehen.

Sie nie in rohe Astronomie einsetzen.
Sie untersuchen heisst sie zerstören.
Liebe, folglich:
sich verbrennen, und nur das, ohne weitere Philosophie.


KIDER

Ihre Milchgesichter im Halbdunkel.
(Sonnen wachsend!)
Fröhlichkeit klaren Wassers in Mondwiegen.
Ihre Reinheit dringt in das Schlafzimmer,
den Flur, das Haus...

Die Fenster, die Fenster sollen sich öffnen!  

 

 
OLHOS
Poema de Anderson Braga Horta com tradução de José Jeronymo Rivera

De repente descubro
a lavada beleza de teus olhos.
(Entre mim e o sono
trazes um sol nos lábios
e nos seios Vênus.)
Teus olhos são como céus que choveram.

AUGEN

Plötzlich finde ich
die gewaschte Schönheit von deinen Augen heraus.
(Zwischen mir und den Schlaf
du trägst eine Sonne in den Lippen
und im Busen Venus.)
Deine Augen sind wie ein Himmel, dass geregnet hat

 

Voltar ao topo da Página Voltar à página Anderson Braga Horta

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar