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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 

ANA RAMIRO

 

Poeta paulistana nascida em 1972. Advogada formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e designer. Na década de 90, integrou o grupo Esquina da Poesia e criou a revista virtual Letra Viva, dedicada à poesia e literatura. Em 1999, publicou Menina-Poesia, com prefácio de Leila Míccolis, pela Editora Blocos, do Rio de Janeiro. Participou de antologias e tem artigos, poesias e traduções publicadas em revistas como Zunái, Critério e Jornal de Poesia. Atualmente, reside em Brasília e aguarda o lançamento de seu próximo livro, intitulado Desejos de Gaia. Mantém o blog Folhas de Girapemba (http://girapemba.blogspot.com/).

 

 

"Em sua poesia, Ana Maria Ramiro ostenta a crença na abrangência das palavras, tantas vezes proféticas e talvez por isto mesmo, tantas vezes rejeitadas, pois as verdades capazes de melhorar o mundo, incomodam. Daí, como bem sintetiza a autora, cônscio da incompreensão que o cerca e o cerceia, (...) " o poeta fica só, versi...ficando.". (Leila Míccolis)

"Trata-se de uma poesia plena de vitalidade, obtida com a mais legítima tradição das últimas experiências da poesia brasileira. (...) São construções ágeis, de fina ironia e sensibilidade. É uma poesia de pura voz feminina, que nos convida para o prazer da palavra". (Salomão Sousa)

 

***

Boa noite, amigas e amigos queridos! Estou publicando um poema, escrito há poucas horas, para registrar a ausência da poetisa paulistana Ana Maria Ramiro (1972-2015), que morava em Brasília e morreu em Lisboa.

 

Soube recentemente que ela faleceu em razão de uma intervenção cirúrgica realizada em 2015, nas terras de Camões e Pessoa. E esse tempo todo, parece, Brasília ignorava o fato, tanto que nenhum dos amigos soube dar maiores detalhes, com exceção do poeta Salomão Sousa — que desvendou parte do mistério.

 

Lamentando essa perda irreparável, por ser Ana ainda muito jovem, deixo aqui meus sentimentos ao esposo dela, aos membros da família e aos amigos que ela fez entre nós. Salve a poesia!

 

João Carlos Taveira

 

 

ELEGIA PARA ANA MARIA RAMIRO

 

 

                        João Carlos Taveira

 

 

Silenciosa água de riacho,

tua voz caudalosa

deixou certezas

e versos bordados

em cetim de espantos.

 

 

Por que te ausentaste

tão subitamente?

Bati à tua porta

e fui recebido pelo vento,

que não deu explicações.

 

 

E soube, no entanto,

que mudaste de residência

e já não mostras a tua face

aos peregrinos da inútil

e vã palavra-pedra.

 

 

Por que te ausentaste

tão silenciosamente

do alcance dos meus olhos

já cansados e tristes

pela ação do tempo?

 

 

 

 

 

1. SIMETRIA


Leve folha toca o solo

Intento homólogo. Do céu,
icto raio ilumina o branco,
estrai uma labareda, risca
uma chama incontroversa

Forjar o signo
isteiro no cálice

Leve folha toca o solo
e o dizer destilado escorre
do relicário

Língua,
frágil elo

entre nave e pássaro.

 

 

SIMETRIA

 

Liviana hoja toca el suelo

Intento homólogo. Del cielo,
Ráfaga súbita centella el blanco,
extrae una chispa, raya
una incontrovertida llama

Forjar el signo
agujero en el cálice

Liviana hoja toca el suelo
y el decir destilado escurre
del relicario

Lengua,
frágil conexión

entre nave y pájaro.


 

 

2. TAUROMAQUIA

(a Michel Leiris)

 

No oco da boca

paira um segredo mal guardado,

embotado pela fêmea

que o habita.

 

Vórtice semi-cerrado de dentes e lábios,

magna fenda

de um universo a ser tragado,

deglutido

e novamente soerguido,

 

a boca regurgita.

 

Mas a quem caberá o jorro do abate?

Quem vai preparar a ceia do ocaso?

 

No oco da boca

crescem flores de fogo,

mas no fundo do olho

permanece a menina

 

alheia

e em chamas,

 

                   uma menina que grita.

 

 

TAUROMAQUIA

(a Michel Leiris)

 


En el hueco de la boca
flota un secreto mal guardado,
embotado por la hembra
que lo habita.

Vórtice semi-cerrado de dientes y labios,
magna fenda
de un universo a ser tragado,
deglutido
y nuevamente erigido,

la boca regurgita.

Pero a quien le tocará la efusión del sacrificio?
?
Quién preparará la cena del ocaso?

En el hueco de la boca
crecen flores de fuego,
pero en el fondo del ojo
permanece la niña

ajena
y en llamas,

                 una niña que grita.


 

 

3. OFÉLIA RELOADED

 

Senhora
dona de mim,
não reparta
o cristal escarlate

iguanas se formam
em meus bolsos,

lodo no copo,
flor esgarçada
no sexo

retira a jóia
torpe,
subverte
o vate

vela,
lâmpadas cáusticas
vertem fogos
fátuos,

descasca-lhe o frio
dorso,
incrusta um nome
às avessas

verbo,
seda luxuriante
que dilacera,


o corpo inerte,
mortalha silente,

olhar os próprios olhos,
enquanto tomba
a cabeça
e desaprender a dor
num instante,

essa voluptuária
serpente

de jaspe

 

 

OFÉLIA RELOADED

 

Señora
Dueña mia,
no repartas
el cristal escarlata

iguanas se forman
en mis bolsillos,

lodo en el vaso,
flor hecha pedazos
en el sexo

retires la joya
torpe,
subviertas
el vate

vela,
lámparas cáusticas
vierten fuegos
fatuos,

Le descascara el frío
dorso,
Le incrusta un nombre
a aviesas

verbo,
seda lujuriante
que dilacera,

el cuerpo inerte,
cubierta silente,

Mirar com sus proprios ojos,
mientras vuelca
la cabeza
y desaprender el dolor
en un instante,

esa voluptuosa
serpiente
de jaspe

 

OFICINA – cadernos de poesia  29.   Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2001.  108 p. 23 cm.    Ex. bibl. Antonio Miranda


AYAHUASCA

Entre Toromoxtle e Coatzintali,
tomba um cacto
eletrônico

Coiotes passam
dissimulados uivando
cóleras
descrevem órbita
de olhos vidrados
do apache

Escavar rugosidades
no corpo inerte,
labirintos traçados
com artifício, des-
sangrar o mártir,
expor o cerne, extrair
a víscera

a palavra
— hóstia —
ingeri-la

e ver
os vermelhos

Más allá

de todo sentido
de toda forma.

 

PANDAIA

Paroles le plus dures
prendre les bêtes à témoin
               — Paul Éluard

O horror
jaz no prato,

no interior do corpo
bivalve, uma joia negra,
improvável,
extrapola os limites orgânicos,
rompe as próprias fronteiras

cheira a sexo e exílio,
esse passo informe

as vísceras salobras
e a necessidade de provar
a gênese

assim como Ama-Sam, mulher-peixe

vender a resistência da água e buscar
um nome nas profundezas
do aquário,

um nome que estimule secreções
nacaradas e materialize líteras
calcificações, produto da dor

cultivar a palavra.

 


LINHAS DE FUGA

A memória,

decanta-la,
a lembrança amputada, a escara
que ainda dói,

um mergulho

sistemático no fundo do aquário
em busca da escama, no hiato
de pedra, o salto
atávico,

gesto elaborado,
reconhecer-se na fome
do tigre,

ler o segredo
estampado

no rajado da pele.

 

*

Página ampliada em novembro de 2022

 

 

 

 

 

Página ampliada em janeiro de 2019

 


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