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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


OSVALDO PICARDO

 

Professor de literatura na Universidade Nacional de Mar del Plata, onde nasceu (1955) e reside. Editor da revista La Pecera e diretor da Eudem Editora, é poeta, crítico, ensaísta e tradutor. Entre suas obras, destacam-se: Apenas en el mundo (1988), Dejar sin ventanas la verdad (1993), Quis, quid, ubi – Poemas de Quintiliano (1997) e Una complicidad que sobrevive (2001). Organizou a coletânea Primer mapa de poesia argentina (2000) e traduziu em parceria com F. Scelzo e E. Moore The love poemas, de James Laughin (2001).

 

 

POEMAS EM PORTUGUÊS,
traduções de Ronaldo Cagiano

 

 

UM LIVRO NA ÁGUA

 

A lentidão não deixa de ser um movimento,

um estar aqui e ali, embora ninguém veja

senão por meio da leveza de uma imagem

na água. Aprendeste com as margens de um rio.

Aí, como num haikai, a flor, a folha amarela

e a nuvem negra adquiriram suas cores:

toda a irrealidade que admiramos.

 

Finalmente, soubeste que é um reflexo o que,

depois de muita discussão, nos fez concordar

sobre a velha questão de saber que coisa é Deus.

Importa quem teve razão? Foram quatro letras

capazes de dizer seu nome? Pode essa palavra traduzir

aquilo que ignora e que a precede?

 

Este é um livro perdido nas águas,

na corrente que o leva...

Suas páginas se apagam levando,

também, o lento segredo que guardam.

 

 

PÁSSAROS MORTOS

 

Um inimigo oculto os espreitou.

Mais que o céu feito de tobogãs

e andaimes invisíveis: eis os altos edifícios,

durante a noite das migrações.

 

Com a manhã, apareceu o espetáculo,

na calçada diante do zelador e sua vassoura.

Poderiam ser milhares ou centenas ou dez:

pirirí ou urraca, espinero ou joão-de-barro,

bem-te-vi ou bichofeo, churrinche ou brasa de fuego...

 

A arbitrariedade de uns nomes não consegue

dissimular todo o canto das coisas.

Sonham com outra idade. Outro reino, dizem.

 

O certo é que foram pássaros e também

cipós soltos das árvores.

 

Embaixo do edifício, agora,

suas sílabas estão caladas, submetidas

ao selvagem sussurro da vassoura.

 

 

LESMAS E HAIKAIS

 

Viscosas e extremamente famintas

de uma folha, ou apenas

uma goma resistente sob o sapato,

elas, sem saber, aparecem

de algum lugar,

na lentidão de outro tempo.

 

Muito quietas

para o baile, muito úmidas

para a alegria, empurram cegas

o peso de uma montanha perdida

e a modesta leveza conquistada...

 

Há um poema do velho Jôsô,

o discípulo do grande Bashô,

em que se compara a uma delas:

 

assim a casa em espiral sobre suas costas

abandona, um dia, junto com sua riqueza.

Troca tudo em razão da intempérie

e da lúcida trilha que nunca seca.

 

 

OUTRA VEZ UM BEIJA-FLOR

 

Imperceptível aos olhos, dizem que o nêutron

não fica parado e, mesmo sem ser visto,

está em todas as partes, desintegrando-se

em um universo de leis e conjeturas.

 

Se pudesses imaginá-lo, nada

seria mais conclusivo que um beija-flor

como o desta última manhã de verão:

lá e cá estava sugando

das flores tardias e até

do reflexo minúsculo da gota

no tanque.

 

Persegues uma imagem e

é apenas um fantasma que permanece na água.

 

 

 

VARIAÇÕES SOBRE UMA BIOGRAFIA DE ONETTI

 

                                  I

             Onetti percorre Memphis.

 

Disseram que aí estava a tumba de Faulkner,

mas era em outra cidade também chamada Memphis.

 

Disseram-te ou leste

que voavam demônios sobre uma cruz branca

em um campo verde e que havia outros nomes

                 como em Spoon River.

 

Leste ou te disseram que estava morto

mas você constatou – ninguém te contou – não havia tumba.

            Um artista é uma criatura impulsionada por demônios.

 

Leste e na leitura solitária – como outra coisa –

misturado a um nome egípcio e a um estranho

caminhaste equivocado em uma manhã

procurando outro desaparecido.

 

                        II

        (a vida imita a literatura)

            Onetti nos destroça

 

            “...nos faz chorar, nos entristece”

ela, com sua boca de cereja, diz na Universidade de Bekerley.

 

Às vezes o assunto tem a beleza de uma estátua grega,

tem essa emoção que adoça

como um beijo de bolero

e tem essa mentira

que não é, senão, um recurso desesperado

com que se pode tolerar o amargo mais profundo.

 

Às vezes, e então, algo por dentro, como um demônio

toma as mãos que antes acariciava

e rasga e estupra e assassina.

 

E diz:

“é assim a literatura”.

 

 

Página publicada em abril de 2012

 

 


 

 

 
 
 
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