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Sobre Antonio Miranda
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

JOSÉ HERNÁNDEZ

 

 

Cidadania. Ética. Pluralidade cultural. Esses são os temas trabalhados nas entrelinhas do poema épico de José Hernandez, "O gaúcho Martin Fierro" (1872), que celebra a bravura e as façanhas sem iguais de um gaúcho trovador, desertor, ladrão e assassino, ao retratar a sua vida de homem justo para alguns, e malfeitor para outros.

 

E, seguindo nessa linha de raciocínio – de obra que visa construir uma identidade nacional – pretende-se compor uma breve análise que evidencie o real significado da obra de Hernández, às certas 'intervenções culturais' naquele país, a Argentina.

 

É possível depreender que, à margem dos fatores históricos que concorrem para a depreciação e posterior mitificação do “gaúcho”, há um cunho ideológico latente a nortear a resignificação daquele indivíduo. O gaúcho, a designar o homem que habitava a campanha em tempos de fronteira aberta, campo aberto e gado solto, sobrevivia, como é sabido, de trabalhos “especiais” como o contrabando , e outros mais quase sempre ilícitos. Mas, também há um outro lado, do “gaúcho” conhecido por “sua coragem e valentia; o amor à liberdade e o apego à terra; o espírito cavalheiresco, nobre e hospitaleiro; a gentileza para com as mulheres; o amor arraigado e constante às tradições”.

 

Texto por Felipe de Aviz Batista - Belém/PA, na Wikipedia.

 

Ilustração de Castagnino

 

MARTIN FIERRO

Tradução de Leopoldo Jobim 

 

 

CANTO I

 

1. *     

Aqui me ponho a cantar

ao compasso da viola,

que o ser a quem desconsola

uma dor extraordinária,

como a ave solitária,

cantando é que se consola.

 

2.      

Imploro aos santos do céu

que amparem meu pensamento;

peço que, neste momento

em que canto minha história,

me refresquem a memória

e aclarem o entendimento.

 

3.      

Venham, santos milagrosos

cada um que me ajude:

minha língua se desgrude

e nada me turve a vista;

peço ao Senhor que me assista

em ocasião tão rude.

 

4.      

Conheço muitos cantores

de famas bem construídas

e que, uma vez adquiridas,

não as podem sustentar:

como se antes de largar

já cansassem das partidas.

 

5.      

Onde outro paisano passa,

Martim Fierro há de passar:

nada o fará recuar,

nem os fantasmas o espantam.

E, uma vez que todos cantam,

também eu quero cantar.

 

6.      

Cantando quero morrer,

cantando me hão de enterrar,

 e cantando hei de chegar

à porta"do Padre Eterno;

pois desde o ventre materno

vim ao mundo pra cantar.

 

7.      

Não se prenda minha língua

e nem me falte a palavra:

minha glória o canto lavra

e, se me ponho a cantar,

cantando me hão de encontrar

ainda que o chão se abra.

 

8.      

Estando no chão da várzea

a cantar um argumento,

como se soprasse o vento

faço tremerem os pastos;

com ouros, copas e bastos,

jogo ali meu pensamento.

 

9.      

Cantor letrado não sou,

mas se me ponho a cantar

meu canto não tem final

e fico velho cantando:

os versos me vão brotando

qual água em manancial.

 

10.    

Com a guitarra na mão,

ninguém me entorpece a rima

ou pode me olhar de cima;

e, se há no peito a canção,

eu faço gemer a prima,

faço chorar o bordão.

11.

Touro sou em meu rodeio,

touraço em rodeio alheio,

pois jamais tive receio:

se alguém o quiser provar,

saiam outros a cantar

e hão de ver quem vai ganhar.

 

12.    

Não saio da rota, nem

que venham me atropelando;

com os brandos eu sou brando

e com os duros sou duro;

jamais em qualquer apuro

ninguém me viu vacilando.

 

13.    

Por Cristo que, no perigo,

meu coração mais se atila:

a terra é várzea tranqüila

e não se assombre ninguém,

pois quem por homem se tem

faz pé firme e não vacila.

 

14.    

Sou gaúcho, e entendam bem

como a minha I íngua explica:

pra mim o chão não se estica,

podia ser bem maior;

nem a víbora me pica,

nem me queima o rosto o sol.

 

15.    

Nasci como nasce o peixe

na profundeza do mar;

ninguém me pode tirar

aquilo que Deus me deu

— o que tenho aqui de meu,

do mundo eu hei de levar.

 

16.    

Minha glória é viver livre

como o pássaro no ar;

no chão não vou me aninhar,

onde há tanto que sofrer,

e ninguém me há de seguir

quando eu voltar a voar.

 

17.    

No meu coração não cabe

quem me venha com querelas

como tantas aves belas

que saltam de rama em rama:

no treval estendo a cama

e me cobrem as estrelas.

 

18.    

E saibam, quantos escutem

do meu sofrer o relato,

que não guerreio nem mato

senão por necessidade;

rolei na adversidade,

tangido pelo mau trato.

 

19.    

E atentem na relação

de um gaúcho perseguido

que foi bom pai e marido

empenhado e diligente;

entretanto, muita gente

o considera um bandido.

 

 

O TRADUTOR: Leopoldo Collor Jobim, nasceu no Rio de Janeiro em 1945. Advogado e jornalista, autor de textos de história. Professor universitário no Rio Grande do Sul, empenhou-se na tradução do clássico Martin Fierro com reconhecida habilidade e competência.

 

Existem várias edições em português da célebre obra gauchesca, feita por diferentes tradutores. Esta de Leopoldo Jobim é das melhores. Escolhemos o Canto I por sua beleza e para introduzir o leitor no universo desta obra exemplar. Infelizmente, as regras do direito autoral não permitem muito mais... Mas o leitor pode (e deve!!!) e ir às livrarias ou às bibliotecas em busca do volume para dar continuidade à leitura:

 

HERNÁNDEZ, José. Martin Fierro. Tradução de Leopoldo Jobim.  Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul; Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1980.  103 p.

 

*TRADUÇÃO FEITA POR CECÍLIA MEIRELES
DO MESMO FRAGMENTO... vale a pena comparar.

 

 

O GAÚCHO MARTIN FIERRO

(Fragmento do Canto I)

         Tradução de Cecília Meireles

Aqui me ponho a cantar
ao compasso da viola,
que aquele a quem rouba o sono
uma pena extraordinária,
como a ave solitária
com cantigas se consola.

Nasci como nasce o peixe
nas profundezas de mar;
ninguém me pode tirar
aquilo que Deus me deu;
o que ao mundo trouxe eu,
deste mundo o hei de levar.

Não tenho em casos de amor
quem me venha com querelas;
como essas aves tão belas,
que saltam de rama em rama,
no trevo preparo a cama
e me cubro com as estrelas.

 

 

 
 
 
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