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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


IVONNE BORDELOIS

Fonte: www.rionegro.com.ar/

IVONNE BORDELOIS

Ivonne Bordelois é poeta e ensaísta. Doutorou-se em Lingüística com Noam Chomsky no Massachusetts Institute of Tecnology e ocupou uma cátedra na Universidade de Utrecht, na Holanda. Recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim em 1983 e é autora de diversos livros, entre eles El alegre apocalipsis (1995), Un triángulo crucial: Borges, Lugones y Güiraldes (1999) e La palabra amenazada (2003). Em 2005 recebeu o Premio Nación-Sudamericana. Etimologia das paixões é seu primeiro livro publicado no Brasil. Tradução de Luciano Trigo, pela Odisséia Editorial.

TEXTOS EN ESPAÑOL TEXTOS EM PORTUGUÊS
 

EL ÁNGEL DEL APOCALIPSIS

En el primer día
pasará el ángel que borra las motocicletas.
En el segundo día
pasará el ángel que apaga la televisión.
En el tercer día
pasará el ángel que arrasa los autos, los aviones y los barcos.
En el cuarto día
pasará el ángel que destruye los avisos comerciales.
En el quinto día
llegará el ángel que acalla las sirenas de ambulancias y bomberos.

En el sexto día
llegará el ángel del silencio:
solo se oirán los árboles, el mar y las estrellas.

En el séptimo día
los hombres comenzarán a hablarse nuevamente, suavemente,
cara a cara.

(De El Alegre Apocalipsis, 1995)

 

NUEVO SERMÓN DE LA MONTAÑA

         Bienaventurados los pobres de verdad, porque no han sido corrompidos.
         Bienaventurados los mansos, porque son los únicos que nos pueden    
                                                                   proteger de los violentos.
Bienaventurados los que lloran y cantan, porque el dinero no los ha
                                                                                      anestesiado.
Bienaventurados los ciegos, porque no pueden leer los diários ni mirar la
                                                                                            televisión.
Bienaventurados los sordos, porque no los alcanza el estrépito.
Bienaventurados los desconocidos, porque nos salvan de los famosos.
Bienaventurados los que ayudan, porq eson demasiados pocos.
Bienaventurados los que callan.

Bienaventurados los desesperados, porque nos enseñan la verdad.


ALABANZA DEL CAFÉ DE LA ESQUINA


Esa que atiende el bar nunca pidió una coima.
Aquél en la ventana no há secuestrado a nadie.
El muchacho en la mesa del fondo no trafica cocaína.
La adolescente en esa esquina no se prostituye.
Una señora lee el diario y otra, más lejos, un libro de Neruda.
El chico que há entrado a mendigar no piensa en asaltarnos.
Ese viejito fuma; mira el aire y los árboles.
La música es tan suave que deja oír a los zorzales.
Un mozo limpia los espejos con cariño y energía.
Entra el sol por la puerta.
Yo estoy escribiendo estas palabras.

Hemos fundado una pequeña república de paz en un mar
                                               de tiburones y pirañas.

Los poderosos pasarán pero yo sé que mi café es eterno.

 

AUTORRETRATO

Me fui muchas veces sin llegar del todo nunca
sin regresar nunca del todo tampoco.
Me enseñaron a ser cauta los amigos ilustres
que golpeaban a sus mujeres
y un amigo asesino que tengo, con su piel de magnolia.
Una vez hice el amor con un marinero griego
bajo un cielo invencible.
Odio a los mentirosos, los avaros y los cobardes
pero adúlteros, ladrones y vagabundos
son costumbres de mi compañía.
Los varones me temen
pero los chicos y los animales no se me resisten.
Me gusta reír con mujeres de los ridículos horrores
que los hombres inventan.
También el vino es de mis amigos, y en la noche la música
y las ciudades cuando oscurecen
bajo el rumor callado de  mis pasos.
Sueño a menudo con pájaros, gatos y caballos
y con seres y cosas que se perdieron solo en apariencia
y reaparecen con gloriosa fidelidad.
La vida es una lengua demasiado enigmática
para seres humanos
y la pena de descifrarla acaso más alta
que el esplendor de todo abrazo.

Soy yo así a mis cuarenta y ocho años, solitária y deslumbrada.

Hombres de poca fe, yo elegí la mejor parte.



Textos extraídos da antologia POESÍA ARGENTINA CONTEMPORÁNEA,Tomo I, Parte Decimoséptima,  da Fundación Argentina para la Poesía. Buenos Aires, 2008.

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TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Antonio Miranda

O ALEGRE APOCALIPSE

No primeiro dia
passará o anjo que apaga as motocicletas.
No segundo dia
passará o anjo que desliga a televisão.
No terceiro dia
passará o anjo que arrasa os automóveis, os aviões e os navios.
No quarto dia
passará o anjo que derruba os outdoors.
No quinto dia
passará o anjo que cala as sirenas das ambulâncias e bombeiros.

No sexto dia
chegará o anjo do silêncio:
apenas ouviremos as árvores, o mar e as estrelas.

No sétimo dia
os homens começarão a dialogar novamente, suavemente,
frente a frente.

(De El Alegre Apocalipsis, 1995)

 

            NOVO SERMÃO DA MONTANHA

Bem-aventurados os verdadeiramente pobres, porque não foram  
                                                                                            corrompidos.
Bem-aventurados os mansos, porque são os únicos que nos podem proteger
                                                                                          dos violentos.
Bem-aventurados os que choram e cantam, porque o dinheiro não os
                                                                                             anestesiou.
Bem-aventurados os cegos, porque não podem ler os jornais nem assistir
                                                                                              a televisão.
Bem-aventurados os surdos, porque não os alcança o estrépito.
Bem-aventurados os desconhecidos, porque nos salvam dos famosos.
Bem-aventurados os que ajudam, porque são tão raros.
Bem-aventurados os humildes, porque eles já não existem.
Bem-aventurados os que calam.

Bem-aventurados os desesperados, porque nos ensinam a verdade.


APOLOGIA DO CAFÉ DA ESQUINA

Esta que atende no bar nunca pediu uma gorjeta.
Aquele na janela não seqüestrou ninguém.
O rapaz na mesa do fundo não trafica cocaína
A adolescente nesta esquina não se prostitui.
Uma senhora lê o jornal e outra, mais adiante, um livro de Neruda.
O menino que entrou a mendigar não pretende assaltar-nos.
Este velhinho fuma; olha o ar e as árvores.
A música é tão suave que deixe ouvir os rouxinóis.
Um empregado limpa os espelhos com carinho e energia.
Entra o sol pela porta.
Eu estou escrevendo estas palavras.

Fundamos uma pequena república de paz em um mar de tubarões
                                                                                e piranhas.

Os poderosos passarão mas eu sei que meu café é eterno.

AUTO-RETRATO

Fui muitas vezes sem chegar de todo nunca
sem regressar nunca do todo tampouco.
Ensinaram-me a ser cautelosa os amigos ilustres
que espancavam suas mulheres
e um assassino amigo meu, com sua pele de magnólia.
Fiz o amor certa vez com um marinheiro grego
sob um céu invencível.
Odeio os mentirosos, ao avaros e os covardes
mas adúlteros, ladrões e vagabundos
costumam ser meus companheiros.
Os machos me temem
mas os meninos e os animais não resistem a mim.
Gosto de rir com mulheres dos ridículos horrores
que os homens inventam.
Também o vinho é de meus amigos, e de noite a música
e as cidades quando escurecem
sob o rumor calado de meus passos.
Sonho amiúde com pássaros, gatos e cavalos
e com seres e coisas que se perderam apenas na aparência
e reaparecem com gloriosa fidelidade.
A vida é uma língua enigmática demais
para os seres humanos
e a pena de decifrá-la talvez mais alta
que o esplendor de qualquer abraço.

Sou eu assim aos meus quarenta e oito anos, solitária e deslumbrada.

Homens de pouca fé, eu escolhi a melhor parte.


Página publicada em outubro de 2008



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