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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


HORACIO PRELER

 

 

Poeta, ensaísta e historiador. Já publicou mais de trinta livros de poesia desde El tiempo insuficiente (1962). Vários de seus poemas apareceram em antologias pessoais na Argentina e na Espanha. Entre as muitas honrarias destaca-se  a ordemChevalier des Arts et des Lettres do governo francês em 2002.

 

 

TEXTOS EM ESPAÑOL   /   TEXTOS EM PORTUGUÊS

Tradução de Ronaldo Cagiano

 

 

MEMORIA DE LA MUERTE

 

Saber que morimos, ésa es la duda final

de la existencia. Morir hacia caminos de esperanza,

la última palabra decisiva modelando epitafios

y la voz de la golondrina verde del verano.

Saber que el tiempo es un aliado de la muerte

depositando sus retoños,

acumulando reseñas de quebrantados nombres.

La muerte, con su consigna total,

reconcentrada en su dominio inexpugnable,

dominadora de las horas,

plenitud del alma ya inexistente.

Y después esta vida,

así, crujiendo en el honor o la nostalgia,

la vida sin valor y sin memoria

enorme aposento sin emblema dilatando el espacio

con tibios escalones.

La muerte detiene cada día la hojarasca o la voz,

pequeña lámpara que asesina sin culpa

como una amante en una tarde oscura del invierno.

La muerte como una cotidiana materia

que dibuja su solitaria imagen,

llamado incipiente que se desnuda como un hueso,

un esqueleto húmedo y vacío, cortejando la luz,

entregando a la aurora su habitante final.

La muerte general en su ilimitada mansedumbre

y su teñida voz,

que se entrega una vez a la respuesta inalcanzable

legada a la última algarabía del verano,

la íntima plegaria

que cabe en el dedo unánime del tiempo.

 

(De Oscura Memoria, 1992)

 

 

MEMÓRIA DA MORTE

 

Saber que morremos, eis a dúvida final

da  existência. Morrer em direção aos caminhos da esperança,

a última palavra decisiva modelando epitáfios

e a voz da andorinha verde do verão.

Saber que o tempo é um aliado da morte

depositando sus retoños, depositando sua prole

acumulando comentários de alquebrados nomes.

A morte, com seu lema total,

reconcentrada em seu inexpugnável domínio,

dominadora das horas,

plenitude da alma inexistente.

E após esta vida,

assim, rangendo o horror ou a nostalgia,

a vida sem valor e sem memória

enorme sala sem emblema dilatando o espaço

com frouxos degraus.

A morte detém cada dia o lixo ou a voz,

pequena lâmpada que assassina sem culpa

como uma amante em uma tarde escura de inverno.

A morte como uma matéria quotidiana

que deseja sua solitária imagem

chamado incipiente que se despe como um osso

um esqueleto úmido e vazio, cortejando a luz

entregando à aurora seu habitante final.

A morte geral em sua ilimitada mansidão

e sua tingida voz,

que se entrega uma vez à resposta inalcançável

doada à última algaravia do verão,

à íntima súplica

que cabe no dedo unânime do tempo.

 

         (De Oscura Memoria, 1992)

 

 

 

XIII

 

El suelo se seca, los bancos ofrecen

sus préstamos, cobran intereses y

arrastam sus plegarias hasta el cajero de turno.

La Confederación de Bancos fija sus horarios,

el arancel, el cauto sentimiento de la usura.

Ellos nacieron del regocijo de sus miembros,

del apoyo incondicional de los que hicieron

la libertad y el gozo.

Los bancos se refugian en sus oficinas de cobalto,

se mueven en sillones con su ritual de espera.

Hay salones dorados con viandas y refrescos,

pasillos infinitos, escaleras, barandas,

fumamos cigarrilos, rememoramos puertas abiertas,

un círculo dispuesto para hablar de riquezas,

de la penuria, de los bolsillos huecos.

Los créditos se ortogan por orden de llegada,

se numeran planillas, se estiran, se dispersan

por oficinas creadas para inculcar valores,

sobretasas, avales. Se saborea el té, se multiplican

horas, se junta todo

en un ciudades, se lo convierte en túmulo,

se reza, se lo adora, se besan los talones de Midas

antes que se hunda en las aguas del Pactolo.

 

(Oscura Memoria, 1992).

 

 

XIII

 

O solo seca, os bancos oferecem

seus empréstimos, cobram juros e

e arrastam suas súplica até o caixa de plantão.

A Confederação dos bancos fixa seus horários,

o imposto, o cauteloso sentimento da usura.

Eles nasceram do regozijo de seus membros,

do apoio incondicional dos que fizeram

a liberdade e o gozo.

Os bancos se refugiam em seus escritórios de cobalto,

movem-se poltronas com seu ritual de espera.

Há salões dourados com carnes e refrigerantes,

corredores infinitos, escadas, varandas,

fumamos cigarros, relembramos portas abertas,

um círculo disposto a falar de riquezas,

da penúrua, dos bolsos vazios.

Os créditos se outorgam por ordem de chegada,

numeram-se folhas, esticam-se, dispersam-se

por escritórios criados para incutir valores,

sobretaxas, garantias. Sabroeia-se o chá, multiplicam-se

horas, junta-se tudo

em cidades, convertem-no em túmulo,

se reza, se o adora, se beijam os talões de Midas

antes que se afunde nas águas do Pactolo.

 

         (Oscura Memoria, 1992).

 

 

 

SÍMBOLOS

 

Un extranjero recorre las calles

de una ciudad desconocida.

El misterio se encierra

en los extraños laberintos.

Los hombres pasan unos junto a otros,

sólo los viejos conocidos se saludan

con las ceremonias de costumbre.

Nos entendemos pobremente,

apenas delineamos los contornos del gesto

articulando símbolos heroicos

para superar el desamparo.

 

(De ''Lo abstracto y lo concreto", 1973)

 

 

 

SÍMBOLOS

 

Um estrangeiro percorre as ruas

de uma cidade desconhecida.

O mistério termina

nos estranhos labirintos.

Os homens passam uns junto aos outros,

somente os velhos conhecidos se saúdam

com as cerimônias de costume.

Entendemo-nos pobremente,

apenas delineamos os contornos do gesto

articulando símbolos heroicos

para superar o desamparo.

 

 

 

HISTORIA

 

Un ojo cargado de nostalgia

nos elimina sin pausa.

No obstante, remontamos el mundo,

damos consistencia a la idea,

formamos conjeturas.

Todo es inútil,

las arterias se endurecen,

la piel no puede continuar su misión,

el dulce ardor de la sangre se destiñe.

Ajados,

envenenados por el tiempo,

nos deslizamos por las calles

como enormes animales históricos

en busca de la muerte.

 

(De ''Lo abstracto y lo concreto", 1973)  

 

 

 

HISTÓRIA

 

Um olho carregado de nostalgia

nos elimina sem pausa.

No entanto, retomamos o mundo,

damos consistência à ideia,

formamos conjeturas.

Tudo é inútil,

as artérias se endurecem,

a pele não pode continuar sua missão,

destina-se o doce ardor do sangue.

Maltratados,

envenenados pelo tempo,

nós deslizamos pelas ruas

como enormes animais históricos

em busca da morte.

 

 

 

EL CENTRO DEL POEMA

 

Los árboles celebran la custodia del viento,

resisten tormentas,

emiten sonidos diferentes.

Resbalan papeles arrojados al aire

y se acumula el óxido.

Los canales de riego se abren para todos,

el agua es un elemento contagioso.

Tomamos notas disparadas sin sentido.

Certeramente dan el centro del poema,

pero apenas si notamos un extraño dolor.

 

(De ''Lo abstracto y lo concreto", 1973)

 

 

 

O CENTRO DO POEMA

 

As árvores celebram a proteção do vento,

as tormentas resistem,

emitem sons diferentes.

Resvalam papéis jogados ao ar

e o óxido se acumula.

Os canais de rega se abrem para todos,

a água é um elemento contagioso.

Capturamos notas lançadas sem sentido.

Seguramente vão dar no centro do poema,

mas apenas quando notamos uma estranha dor.

 

 

LA PARED

 

Todas las mañanas un hombre

levanta las paredes de sua casa.

Sube a los andamios; el sol brilla en su piel.

Abajo, sus hijos juegam con la arena.

Está solo.

Quizá piensa en la mujer que tuvo

o en la época en que fue feliz.

Cuando termina su trabajo,

recoge sus herramientas

y regresa por el mismo camino que llegó.

 

(De La razón migratoria, 1977).

 

 

A PAREDE

 

Todas as manhãs um homem

levanta as paredes de sua casa.

Sobe nos andaimes; o sol brilha em sua pele.

Embaixo, seus filhos brincam com a areia.

Está sozinho.

Talvez pense na mulher que teve

ou na época em que foi feliz.

Quando termina seu trabalho,

recolhe suas ferramentas

e volta pelo mesmo caminho que chegou.

 

 

 

PALABRA FINAL

 

Hoy hemos regresado de la infancia

casi sin darnos cuenta,

sin poner en los registros la hora de partida.

Regresamos del passado

con la retina herida y el hueso carcomido.

Los dedos parecían dardos

tirados sobre un blanco perfecto,

marcas de las uñas sobre la piel

y un hondo peregrinaje

hacia el lugar iluminado de la carne,

aquello que integra la miel y la leche

de la última palabra.

 

(De Zona de Entendimiento, 1999)

 

 

PALAVRA FINAL

Hoje regressamos da infância
quase sem nos darmos conta,
sem por nos registros a hora da partida.
Voltamos do passado
com a retina ferida e o osso carcomido.
Os dedos pareciam dardos
arremessados sobre um branco perfeito,
marcas das unhas sobre a pele
e uma profunda peregrinação
tomava o lugar iluminado da carne,
aquilo que integra o mel e o leite
da última palavra.

 

 

TAREA DEL CREPÚSCULO

 

Del crepúsculo obtengo las razones para vivir,

los olores más viejos,

las migajas más claras.

Cada crepúsculo en su tarea.

 

Extraigo lo mejor

y lo extiendo sobre la hierba.

Dice quedamente: aquí estoy,

sin aciertos ni errores,

estoy aquí.

Soy la palabra que perdura.

 

Cada día se pierde

en el estado formal de la oscuridad.

 

 

(De Silencio de Hierba, 2001)

 

 

TAREFA DO CREPÚSCULO

Do crepúsculo obtenho as razões para viver
os perfumes mais velhos,
as migalhas mais claras.
Cada crepúsculo em sua tarefa.

Extraio o melhor
e o estendo sobre a grama..
Disse finalmente: aqui estou,
sem acertos nem erros,
estou aqui.
Sou a palavra que perdura.

Cada dia se perde
no estado formal da escuridão.

 

 

Página publicada em junho de 2011

 


 

 

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