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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MÁRIO FAUSTINO

MÁRIO FAUSTINO
(1930-1962)
 

Piauiense, de Teresina, iniciou-se como cronista n´A Província do Pará, aos 16 anos. Foi bolsista na Califórnia, de 1951 a 1952, estudando a literatura de língua inglesa. Trdutor da ONU, NY, 1959-1960. Autor de um só livro – O Homem e sua Hora (Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1955) e de poemas esparsos, publicados em revistas e jornais. Notabilizou-se como crítico literário no SDJB (Suplemento Dominical do Jornal do Brasil) com a seção Poesia-Experiência, no auge dos movimentos concretista e neoconcretista. Traduziu Ezra Pound ao nosso idioma. Faleceu vítima de um acidente aéreo nos Andes peruanos, em missão jornalística.  A Global Editora, de São Paulo, publicou os seus “Melhores Poemas”, selecionados por Benedito Nunes, merecendo várias reimpressões.

 

See also: POEMS IN ENGLISH

 

 

Legenda

No princípio
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia.
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se estendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.

Havia então mais sombra em nossa via.
Menos fragor na farsa da agonia,
Mais êxtase no mito da alegria.

Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia —
e mudo sou para contar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.

         (De O Homem e sua hora)


Nam sibyllam

Lá onde um velho corpo desfraldava
As trêmulas imagens de seus anos;
Onde imaturo corpo condenava
Ao canibal solar seus tenros anos;
Lá onde em cada corpo vi gravadas
Lápides eloqüentes de um passado
Ou de um futuro argüido pelos anos;
Lá cândidos leões alvijubados
Às brisas temporais se espedaçavam
Contra as salsas areias sibilantes;
Lá vi o pó do espaço em enrolando
Em turbilhões de peixes e presságios —
Pois na orla do mundo as delatantes
Sombras marinhas, vagas, me apontavam.


O mundo que venci deu-me um amor

 

O mundo que eu venci deu-me um amor,

Um troféu perigoso, este cavalo

Carregado de infantes couraçados.

O mundo que venci deu-me um amor

Alado galopando em céus irados,

Por cima de qualquer muro de credo.

Por cima de qualquer fosso de sexo.

O mundo que venci deu-me um amor

Amor feito de insulto e pranto e riso,

Amor que força as portas dos infernos,

Amor que galga o cume ao paraíso.

Amor que dorme e treme. Que desperta

E torna contra mim, e me devora

E me rumina em cantos de vitória...

 

 

Ego de Mona Kateudo

 

Dor, dor de minha alma, é madrugada

E aportam-me lembranças de quem amo.

E dobram sonhos na mal-estrelada

Memória arfante donde alguém que chamo

Para outros braços cardiais me nega

Restos de rosa entre lençóis de olvido.

Ao longe ladra um coração na cega

Noite ambulante. E escuto-te o mugido,

Oh vento que meu cérebro aleitaste,

Tempo que meu destino ruminaste.

Amor, amor, enquanto luzes, puro,

Dormido e claro, eu velo em vasto escuro,

Ouvindo as asas roucas de outro dia

Cantar sem despertar minha alegria.

 

 

Carpe Diem

Que faço deste dia, que me adora?

Pega-lo pela cauda, antes da hora

Vermelha de furtar-se ao meu festim?

Ou colocá-lo em música, em palavra,

Ou grava-lo na pedra, que o sol lavra?

Força é guarda-lo em mim, que um dia assim

Tremenda noite deixa se ela ao leito

Da noite precedente o leva, feito

Escravo dessa fêmea a quem fugira

Por mim, por minha voz e minha lira.

 

     (Mas já se sombras vejo que se cobre

      Tão surdo ao sonho de ficar – tão nobre.

      Já nele a luz da lua – a morte – mora,

      De traição foi feito: vai-se embora.)

 

 

Divisamos assim o adolescente

 

Divisamos assim o adolescente,

A rir, desnudo, em praias impolutas.

Amado por um fauno sem presente

E sem passado, eternas prostitutas

Velam por seu sono. Assim, pendente

O rosto sobre um ombro, pelas grutas

Do tempo o contemplamos, refulgente

Segredo de uma concha sem volutas.

Infância e madureza o cortejavam,

Velhice vigilante o protegia.

E loucos e ladrões acalentavam

Seu sonho suave, até que um deus fendia

O céu, buscando arrebata-lo, enquanto

Durasse ainda aquele breve encanto.

 

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MAIS POEMAS

 

PREFÁCIO

Quem fez esta manhã, quem penetrou
à noite os labirintos do tesouro,
quem fez esta manhã predestinou
seus temas a paráfrases do touro,
a traduções do cisne: fê-la para
abandonar-se a mitos essenciais,
desflorada por ímpetos de rara
metamorfose alada, onde jamais
se exaure o deus que muda, que transvive.
quem fez esta manhã fê-la por ser
um raio a fecundá-la, não por lívida
ausência sem pecado e fê-la ter
em si princípio e fim: ter entre aurora
e meio-dia um homem e sua hora.

 

SONETO ANTIGO

 

Esse estoque de amor que acumulei

Ninguém veio comprar a preço justo.

Preparei meu castelo para um rei

Que mal me olhou, passando, e a quanto custo.

Meu tesouro amoroso há muito as traças

Comeram, secundadas por ladrões.

A luz abandonou as ondas lassas

De refletir um sol que só se põe

Sozinho. Agora vou por meus infernos

Sem fantasma buscar entre fantasmas.

E marcho contra o vento, sobre eternos

Desertos sem retorno, onde olharás

Mas sem o ver, estrela cega, o rastro

Que até aqui deixei, seguindo um astro.

 

 

BRASÃO

 

Nasce do solo sono uma armadilha

das feras do irreal para as do ser

– Unicórnios investem contra o Rei.

Nasce do solo sono um facho fulvo

transfigurando a rosa e as armas lúcidas

do campo de harmonia que plantei.

Nasce do solo sono um sobressalto.

Nasce o guerreiro. A torre. Os amarelos

corcéis da fuga de ouro que implorei.

E nasce nu do sono um desafio.

Nasce um verso rampante, um brado, um solo

de lira santa e brava – minha lei

até que nasça a luz e tombe o sonho,

o monstro de aventura que eu amei.

 

 

 

 VIDA TODA LINGUAGEM

 

Vida toda linguagem,

frase perfeita sempre, talvez verso,

geralmente sem qualquer adjetivo,

coluna sem ornamento, geralmente partida.

Vida toda linguagem,

há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome

aqui, ali, assegurando a perfeição

eterna do período, talvez verso,

talvez interjetivo, verso, verso.

Vida toda linguagem,

feto sugando em língua compassiva

o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!

leite jorrado em fonte adolescente,

sêmen de homens maduros, verbo, verbo.

Vida toda linguagem,

bem o conhecem velhos que repetem,

contra negras janelas, cintilantes imagens

que lhes estrelam turvas trajetórias

Vida toda linguagem –

                                    como todos sabemos

conjugar esses verbos, nomear

esses nomes:

                      amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno,
                                                              / contra a chuva,
tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
                  língua
                        eterna.

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De
Mario Faustino
POESIA COMPLETA
POESIA TRADUZIDA
 Introdução, Organização e Notas de
Benedito Nunes
São Paulo: Editora Max Limonad, 1985
Capa: Oscar Ramos

 

RESSSUSCITADO PELO EMBATE DA RESSACA

Ressuscitado pelo embate da ressaca,
Eu, voz multiplicada, ergo-me e avanço até
O promontório onde um cadáver, posto em maca,
Hecatombado pela vaga, acusa o céu
Com cem olhos abertos. Fujo e, maiis adiante,
O açor rebenta o azul e a pomba, espedaçada,
Ensanguenta-me o rastro. Avante, sombra, avante,
Cassa-me a paermissão de fica vivo. O nada
Ladra a meu lado, lambe e morde o calcanhar
Sem asas de quem passa e no espaço se arrasta
Pedindo paz ao fim, que o princípio não basta:
A vitória pertence ao tempo que no ar
Agita um homem só, troféu tripudiado
Pela noite que abate o sol no mar manchado.


SONETO II

Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

A luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à note, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

 

Ver o E-Book: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/mario_faustino

 

FAUSTINO, Mário.  O Homem e sua Hora. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM. 2015.26 p. ilus. col.  Inclui texto “Entre a aurora e o meio-dia”, de Vilma Costa, sobre a obra em questão.  Edição artesanal, tiragem limitada. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Página ampliada e republicada em janeiro e em abril de 2009; ampliada em março 2010; ampliada em novembro de 2016.

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