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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RAYMUNDO DE SOUZA BRITO


Advogado, professor, jornalista e  político. Nascimento: 10 de julho de 1900, Salvador-BA. Cursou o Secundário no Colégio Carneiro Ribeiro, Salvador. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Bahia, 1921. Falecimento: 17 de junho de 1982

 

De
Raymundo de Souza Brito
CAMINHOS PERDIDOS. POEMAS
Rio de Janeiro: Pongetti, 1946

CAMINHOS PERDIDOS

 

A minha infância foi embalada

péla toada

cadenciada,

dos atabaques e dos batuques

de negros fiéis.

Menino ainda, sabia os nomes

de deuses broncos,

de oguns estranhos

de candomblés.

 

Conheci a dolência

lânguida e terna

de velhas cantigas

sentimentais...

Modinhas que vibravam dentro da noite.

Noites luminosas,

cheirosas,

noites antigas,

noites baianas,

que eu não vejo mais.

Noites de ingênuas emoções,

sem rumores de bonde,

sem apitos de guardas,

cheias de lua e de violões.

 

Sobre a cidade adormecida,

o manto meigo de um luar de prata,

alma emocional

e dolorida

da serenata,

se derramava iluminando

velhos sobrados

de sacadas de ferro,

cheios de história,

cobertos de glória.

 

Minhas modinhas de Eduardo das Neves,

minhas modinhas de Catulo,

e, sobretudo» onde andam agora

minhas modinhas de Roberto Correia,

que eu perdi ?!

 

No mês de Junho, ia às trezenas

de Santo António, que minha tia

mandava rezar.              .

(Uma promessa que ela fizera

de há muitos anos, para o meu tio

do Paraguai com vida voltar).

 

Depois da reza a gente dançava

até o dia amanhecer.

E eu namorava

as meninas do coro,

que o latinório da ladainha

cantavam convictas, sem compreender.

 

Conhecia e amava, uma a uma,

as pedras da velha Sé.

Aqueles muros vetustos,

aquelas portas veneráveis,

aqueles becos atormentados

não tinham segredos para mim.

 

Sabia a história dos homens rudes

que um dia vieram,

em caravelas,

fundar um reino

deste outro lado

do imenso mar.

Homens ferozes,

que, entre os combates,

paravam um instante

para rezar.

 

Atirava pedras

nas mulheres de capa,

virgens fanadas,

tristes "caponas"

obcecadas,

que de terço em punho

subiam ladeiras

pedindo esmolas

para São Cosme e Damião.

 

Mas, gostava de ir, contritamente,

marchando, lento,

na cauda imensa da procissão,

à voz dos sinos dobrando tristes,

delen-den-bão... delen-den-bão...

 

Aquelas voltas impossíveis

da velha Sé

não tinham segredos para mim.

E eu era feliz em plena mocidade,

na minha ingenuidade

de tupiniquim.

 

Mas, um dia, ruíram as pedras

da velha Sé.

E com aquelas paredes veneráveis

ruíram os meus sonhos.

 

Calaram os sinos

que me acordavam

nas manhãs domingueiras,

ensolaradas,

para ir rezar.

A cidade deu para sair à noite

para ver as luzes elétricas das ruas.

A cidade, vestida de novo,

tinha outra gente,

tinha outro povo.

 

Rolaram ao fragor iconoclasta

minhas ruas queridas

e meus sonhos ingênuos,

a minha mocidade-sentimento,

livre... livre... feliz...

sem a cultura,

sem a tortura

do pensamento

que faz o homem tão infeliz.

 

Abriram o meu cérebro

em nome de um princípio venerável

cujo nome esqueci,

e meteram dentro dele

cinco mil anos de literatura.

 

 

È eu que apenas sentira minha vida,

que sabia cantar,

fui me fazendo um rapazinho triste,

que aprendeu a pensar.

 

E hoje eu sou aquele que olha para a vida

intensíssima,

velocíssima,

com o olhar esgazeado,

cansado,

com que se olha um destino irremediável.

 

Pelo que se adivinhou

e sonhou

e não cumpriu.

Pelas flores que ficaram esquecidas

à beira dos caminhos

e murcharam

e penderam,

pelas flores que não foram colhidas.

 

Sinto que os sonhos da minha mocidade,

irrealizados,

sufocados,

gritam dentro de mim.

É um turbilhão irresistível,

clamando em altos brados,

desesperados,

ignorados,

por uma realidade que já lhes não posso dar,

Cândidas emoções... terna esperança...

dos meus tempos felizes de criança...

 

Caminhos perdidos,

que nunca mais  hei de encontrar...

 

 

 

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p.
15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

BARRA A FORA

 

 

Um nordeste à feição a bujarrona enseia.
Driças de pique e boca enristadas ao vento,
Abojado o traquete, empina-se a "Sereia"
Sobre o dorso do mar, em jogo manso e lento.

 

Servindo à viração, que pouco a pouco alteia,
Orça mestre Miguel, à escota e ao leme atento.
Fremem, na disparada, a vela toda cheia
E a mezena apoupada e panda a sota-vento.

 

Agonizando, o sol mergulha, solitário,

No horizonte, a boreste. E a noite de verão

Desenrola no céu refulgido estretário.

 

O Morro de São Paulo entressurge, a brilhar,
Na luz do seu farol, que nos causa a impressão
De uma língua de fogo a lamber o alto-mar!

 

 

 

 

 

 

Página publicada em agosto de 2010; ampliada em dezembro de 2019

 

 

 

 

 

 

 

 

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