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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



MOACIR DE ALMEIDA

(1901?-1924)

 

Poeta verdadeiramente precoce, escreveu os primeiros versos ao nove anos de idade, e teve vida breve, falecendo aos vinte e três anos, de uma grave hipertrofia cardíaca. Autor de um livro único, mas definitivo, dos melhores de seu tempo.

 

Considerado um poeta “reencarnacionista” pelos espiritistas, como poesia espírita, por causa do poema “À Angústia”, embora possa ser apenas uma licenciosidade poética.

 

“Sua arte era vertical e atirava-se sempre para o alto, não compreendendo o rasteiro, o horizontal.  AGRIPPINO GRIECO

 

“A poesia de Moacir de Almeida possui um sentido vertiginoso de infinito.” JAMIL AOLMANSUR HADAD

 

Foi a vida atormentada de Moacir de Almeida que o fez grande entre os maiores de seu tempo.”  OLEGARIO MARIANO

 

“Foi um poeta de visões universais e de preocupações sociais.” MURILO ARAUJO

 

ALMEIDA, MoacirGritos bárbaros e outros poemas.  3ª. edição aumentada.  Rio de Janeiro: Livraria São José, 1960.  215 p.  14x22 cm.  Apresentação de D. Martins de Oliveira.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

AMARGURA

 

Ah! não ser compreendido é a tortura do Artista!

Ofegante, rompendo os joelhos pelas fragas,

Vê, debalde, fulgir, nas nuvens de ametista,

A miragem do ideal, entre as estrelas magas...

 

Arqueja; o vendaval de angústias que o contrista

Vem-lhe aos olhos sangrar em tristezas pressagas...

Alça a vista: arde o céu tão longe! Baixa a vista:

Tão longe os corações a rolar como as vagas!

 

E ele, que tem o azul preso no crânio aflito,

Abre em astros de sangue a noite dos abrolhos,

Ergue constelações de rimas no infinito...

 

Soluça de aflição no deserto profundo,

Tendo os astros no olhar e a noite sobre os olhos,

Tendo os mundos nas mãos sem nada ter no Mundo!...

 

 

Á ANGÚSTIA

 

Sinto-te em mim como um vampiro... Sinto

Tua asa a fremir em meus olhos profundos:

— Persegue-me através do labirinto

De outras encarnações e de outros mundos.

 

Vejo-te na espiral rubra do Instinto,

Entre os meus gritos de tormento, oriundos

De ti, que passas no meu sonho extinto,

Como, no oceano, os ventos iracundos...

 

E, nas noites de angústia, em que se alarga,

— Mancha de sangue — a minha sombra amarga,

Entre os prantos de fel de que te nutres,

 

Tu, anjo, esmagas, em funéreas chispas,

Meu crânio em tuas mãos, que, uivando, crispas,

Negras, como dois trágicos abutres!

 

 

INVOCAÇÃO À MINHA DOR

 

Não arranques o lenho de tortura

Dos teus ombros...  Estende, dos espaços,

As duas vias-lácteas dos teus braços,

Iluminando a minha vida obscura.

 

Vejo na própria luz teus roxos traços...

Teu beijo me avermelha a fronte impura...

Mas quanto mais vacilo de amargura.

Mais os astros rebentam dos meus passos!

 

Dor fecunda!  Jamais, da angústia imensa

Afastes o esplendor em minha vista...

Tombe o amor!  Tombe a glória! Tombe a crença!

 

E, agonizante e mudo, ao sol profundo,

Eu despedace o coração de artista

Numa aurora de versos sobre o mundo!

 

 

PRECE

 

Deus dos que sofrem!  Deus dos que, sentindo

O travo amargo das angústias, vão

Enchendo o mundo de um clamor infindo,

Rebentando num grito o coração.

 

Deus dos fortes, que vivem repetindo

A tragédia do Cáucaso, e os que são

— Cristos crucificados sobre o Pindo —

Aureolados de sangue e de ilusão.

 

Deus!  Se, no horror deste sofrer medonho,

Hei de vencer, por fim, na ânsia divina,

Bendigo a dor, bendigo o meu sofrer,

 

Bendigo o sonho que me arrasta ao sonho,

Tendo todos os astros na retina

E todos os abismos no meu ser!

 

 

ÁRVORE NEGRA

 

Árvore de um país de tempestades,

Nas cordilheiras trágicas da Vida,

Tenho as raízes entre a rocha, a erguida

A fronte às nuvens das imensidades...

 

Rangem meus ramos negros, à investida

Das procelas de torvas claridades,

Quando, ó Destino, os céus em luz invades,

E ardo num luar de sangue submergida...

 

E, ao beijo dos relâmpagos, estendo

Os braços nus, em comoções violentas,

Vendo as folhas rolar no espaço horrendo,

 

Sem uma asa em meus galhos sofredores,

Sem um riso de flor, porque as tormentas

Passam despedaçando as minhas flores...

 

 

TABOR

 

Vertigem deslumbrante!  Astros, quimeras,

Em transfigurações vertiginosas,

Tudo ascende o Tambor de sombras e eras,

Onde a carne que tomba ergue-se em rosas.

 

O Himalaia foi sol; noutras esferas,

Os seios de Hero foram nebulosas;

E as mãos de Victor Hugo, em primaveras,

Foram as asas de um condor, gloriosas...

 

Minha lágrima ardeu num raio aflito;

Meus olhos, cheios de visões supremas,

Foram lavas; e, ao beijo do infinito,

 

Meu coração foi rocha: e, ansiando em gemas,

Ainda hoje é rocha... É o Cáucaso maldito

Onde se estorce o Prometeu dos poemas!

                  

 

DOMADORA DO OCEANO

 

 Eis a teus pés o oceano... É teu o oceano!

 Deusa do mar, teu vulto aclara os mares,

esguio como um cíato romano,

nervoso como a chama dos altares...  

 

A alma das vagas, no ímpeto vesano,

ajoelha ante os teus olhos estelares...

 Eis a teus pés o oceano... É teu o oceano!

Cobre-o do verde sol dos teus olhares !  

 

Sou o oceano... És a aurora! Eis-me de joelhos,

ainda ferido nos tufões adversos,

lacerado em relâmpagos vermelhos!  

 

  Sou teu, divina! E, em meus gritos medonhos,

lanço a teus pés a espuma de meus versos

 e as pérolas de fogo de meus sonhos!

 

 

NÔMADE 

 

Triste e exausto, arrastei-me por sombrias

terras de angústia, aos astros e às tormentas,

 tendo nos olhos as visões violentas

de crucificações e de agonias.  

 

Vales da morte, solidões nevoentas

 do tédio, abismos de paixões doentias,

manchei de sangue; e fiz, das pedras frias.

 brotar estrelas em caudais sangrentas.  

 

Nômade das paixões desesperadas,

enchi de sonhos todas as estradas.

 E o amor que todos têm - visão serena.  

 

que a vida de outros faz florir em chama

 -só pude ouvi-lo em bocas de gangrena,

só pude tê-lo em corações de lama...

 

 

DESESPERAÇÃO DE CINZAS 

 

No martírio das minhas esperanças,

tive raivas, blasfêmias, desvarios...

E ergui meus braços, hirtos como lanças,

 contra os astros sonâmbulos e frios.  

 

Porque jamais os sóis, em noites mansas,

rasgassem luz nos meus fatais transvios,

abri-me em ódios e desesperanças,

como um vulcão se abre em clarões bravios.  

 

  E — cratera de anátemas e assombros —

tudo queimei em brasas de tormentos...

 E, hoje, que o amor despenha em lama e escombros.  

 

  -  contra as constelações, a escurecê-las,

arrojo as cinzas do meu tédio aos ventos

e a fumaça dos sonhos às estrelas...

 

 

 

 

 SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d.  154 p.  16,5 x 11           cm.  ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 148 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses.  Ex. bibl. Antonio Miranda





 

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

  LUTA   NAS SELVAS

 

 

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Por noite azul de estio, a horda de aventureiros,

 

Estranha multidão de pálidos guerreiros,

— Entrara da floresta os dédalos. Provinha

 

Da praias de ouro e sol onde a raiva marinha

Rompe auroras de espuma em cima dos rochedos.

Vinham como o jaguar, cautelosos e tredos,

Todos num claro retinir de estranhas armas.

Logo, o céu ribombou no estridor dos alarmas.

E, ao selvagem trovão da pocema de guerra,

 

Inúbias cuja voz as procelas encerra, —

Ergueu-se a taba heril, diante dos invasores.

Travou-se a guerra imensa; os guerreiros clamores,

Léguas e léguas, vão bater de penha em penha,

Sacudidos no abismo e arrastados na brenha.

 

Mãos brandindo clarões de lâminas agudas;

Rostos brônzeos que a raiva acende; lanças rudas

Lampejando; punhais, como línguas, lambendo

A sombra; e arcos zunindo, em fúria, o silvo horrendo

De mil flechas, que a noite engole; olhos congestos

E sanguíneos; visões envolvidas em gestos

De espada; cada golpe o sangue arranca, em fúria.

E é tanta a confusão que, na sombra purpúrea,

Êsse sangue parece espirrar, não das chagas,

Mas da noite golpeada. Entre as túrbidas vagas,

Ouvem-se as contorsões dos músculos suarentos.

Rangem crânios, ao troar dos tacapes sangrentos.

 

Ruge e restruge, brama e rebrama a floresta;

 

Mangueiras tripicais que a primavera enfesta

De flores, a prender-lhe a verde cabeleira

 

No diadema vernal da flora brasileira;

Régios ipês rasgando as túnicas douradas

De estrêlas, entre as mãos das brisas perfumadas;

Pinheiros cuja fronde, aberta e verde, pélas

Noites, afaga o céu retalhado de estrelas;

Araucárias, de tronco aberto em cicatrizes,

Como polvos torcendo as profundas raízes;

Cabriúvas ancestrais; cedros; lianas acesas

Em chagas; procissões de rochedos, devesas

Que se espreguiçam pelos vales tutelares;

Tribos de coqueirais de trémulos cocares;

Cipós torcidos no ar, suspensos, como cobras

Antes do bote audaz de selváticas dobras;

E tigres cujo pelo híspido, fusco e ruivo,

Lembra serpes de treva em chão de flamas; uivo

Rouco de sucuris; procela de cachoeiras.

 

 

 

Brama e rébrama a dor das selvas brasileiras.

 

..............................................................

 

 

                        ("Poesias Completas")

 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS

 

ABOLIÇÃO E REPÚBLICA

Imagem de Rui Barbosa in: aventurasnahistoria.uol.com.br

 

ODE A RUI BARBOSA

Agonia! De que procela arrancaste o teu grito?
Deus, cujo flâmeo gesto é cataclismo e aurora,
que a Atlântida submerge e a flor de astros irrora,
dando à América enorme os Andes e o Amazonas,
à sombra do Equador, nas flamejantes zonas,
quis aos dois monstros dar outro irmão de grandezas
E o teu gênio surgiu! Entre auroras acesas,
os Andes viram, longe, o Amazonas radiante
tremer.  E sobranceaste os horizontes, ante
a cordilheira de água e o rio de granito.

O Brasil é o teu verbo. ET, sem teu verbo infinito,
levavas o Brasil quando à Europa elevavas
teu grito — sol triunfal para as nações escravas!
O Brasil, mergulhado em teu verbo, fulgia.
A pátria! A natureza em cada tropo ardia!
Falseava, em cada frase, esbraseada floresta!
As flores entre o sol! Asas de sol em festa!
E nos tropos, tombando, as cachoeiras douradas!
E as montanhas vergando as convulsas lombadas
no horizonte. E os sertões!  E os rios espumando
nas palavras!  E os sóis túrbidos, lampejando!

O Brasil flamejava em tua voz gloriosa,
e, ao clarão do teu gênio, a Europa ardeu, radiosa.
E as avalanches como águias brancas, nos montes,
viram-te como um sol rompendo os horizontes.
Quando a aurora imortal do teu verbo ignescente
flutuou ao céu platino, um frêmito fremente
sobre os crânios radiou, sacudindo os pampeiros.
O condor foi dizer aos astros condoreiros
o teu nome, e arrastou nos surtos o teu verbo.
E os Andes — mar de pedra, onde arde o fogo acerbo —
tumultuaram tremendo, a ouvi-la — e o Plata a ouvi-la,
as vagas sobresteve entre a noite tranquila.
E, por tudo o tremor; nos espigões bravios,
houve um grito: — Que voz apaga a voz dos rios?
E a montanha: — Há de ser o oceano... E o oceano:?
— É o raio!
Mas, o raio agitando as nuvens em desmaio:
— Noite, escuta!  Esta voz é a linguagem do Assombro!
Teu verbo — Atlas de fogo — ergue o universo no ombro;
para medi-lo o poema é curto... o espaço é curto!
Tua alma disse ao condor: — És meu irmão de surto!

Teu olhar disse ao raio: — És meu irmão de arrojo!

Ah! destino de quem deixa os seres, de rojo,
sobre a lama!  O condor, nos remígios violentos,
sente os montes, o charco, as árvores, os ventos,
— a natureza enorme, à sombra da asa enorme!
Tudo lhe inveja o surto!  O abismo negro e informe
ruge-lhe aos pés!  A pedra, olhando azul blasfema!
O oceano, sacudindo o rígido diadema,
ergue os braços ao céu!  A floresta rebrama,
como garras erguendo as frondes, entre a chama
que o luar deixa escorrer das mãos como um tesouro!
O horizonte retorce as mãos!  os cumes de ouro
lembram mão de granito!
E o condor, sobre os mares,
molha as asas no céu rompe os véus estelares,
sentindo ressonar aos pés a cordilheira!
Diz a estrela: — É uma estrela... E o pó! — É um grão de 
poeira.

 

        (POESIAS COMPLETAS – Zélio Valverde – Rio, 1943)

 

*

 

 

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html

 

Página publicada em outubro de 2021

 

 

 

 

 

 Página ampliada e republicada em dezembro de 2019




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